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“Paranauê, paranauê, Paraná”. Basta começar a melodia entoada por berimbaus, caxixis, atabaques e outros instrumentos típicos da Capoeira para a roda se formar. Esse ritmo, tão comum aos capoeiristas, é amplamente conhecido pela população. A importância desse movimento na história do país também. No entanto, o ofício dos mestres de Capoeira ser um Patrimônio Imaterial de Canoas pode ser novidade para muitos. Esse é o assunto do último dia da Semana do Patrimônio. Uma oportunidade para conhecer melhor e apreciar a tradição na região.

A Profª Dra. Cleusa Graebin, do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Memória Social e Bens Culturais, explica que se algum pesquisador quiser seguir os rastros dos mestres de apoeira no Brasil ao longo dos tempos, terá muitas fontes nas quais poderá se apoiar: “Nas obras de artistas viajantes que por aqui passaram no século XIX; em ocorrências policiais, principalmente, da Bahia, Recife e Rio de Janeiro; nas páginas dos jornais; na literatura; na música; no teatro; e no cinema, entre outros”, detalha. De acordo com ela, pode-se perceber a presença de capoeiristas interagindo no processo histórico de construção da sociedade brasileira, resistindo a todo tipo de adversidade e conseguindo consolidar a capoeira como um elemento importante de nossas práticas culturais. “A Capoeira, com suas ritualísticas próprias, misto de jogo, esporte e luta é uma manifestação que está presente em todo o território nacional, com milhões de adeptos, conquistando adultos, jovens e crianças”, completa.

E como a Capoeira conquistou espaço em Canoas? Rafael Felipe Silva de Souza, em seu trabalho no Bacharelado em História na Universidade La Salle, pesquisou sobre o assunto, entrevistando dez mestres sobre seu ofício. Estes informaram que a prática efetiva e o ensino se deram na década de 1970, quando alguns mestres começaram a atuar na cidade. O pioneiro foi Mestre Macaô, iniciando as aulas em uma residência, passando para o Canoas Tênis Clube. Na sequência, utilizaram dependências do Clube Cultural Canoense, academias e, em 1982, no Colégio Marechal Rondon, que os mestres entrevistados colocam como espaço de formação de destacados capoeiristas que construíram linhagens de mestres que originaram os grupos de capoeira. Acompanhe o relato da Profa. Cleusa sobre a pesquisa:

"Rafael Felipe, conversando com Mestre Alfredo, descobriu que um grande impulsionador da capoeira em Canoas foi Mestre Nô que formou outros mestres, em aulas no Colégio marechal Rondon. Na década de 1980, formaram-se grupos e também, as chamadas 'rodas de vadiação', conforme Mestre Dindo. Essas rodas ocorriam no Capão do Corpo (Parque Getúlio Vargas), Calçadão e entrada do Bairro Mathias Velho. Isso fazia parte de estratégias para chamar atenção para a Capoeira, praticadas por integrantes do Grupo Oxóssi (Mestre Carcará) e do Casa Grande (Mestre Macaô).Mestre Soneka relata sobre a ligação dos capoeiristas da cidade com a capoeira angola da Bahia.

Na trajetória da capoeira em Canoas, Rafael cartografou grupo na Universidade Luterana do Brasil, fundado por Mestre Fabinho. Quando realizou a pesquisa, entre 2012 e 2013, levantou a existência dos seguintes grupos: Associação Cultural e Desportiva União de Raças, de Mestre Kid, Associação Cultural Capoeira Angola Nascente Palmares, de Mestre Dindo, Associação Cultural e Desportiva Norte Sul Capoeira Oxóssi, de Mestre Soneka, Grupo Capoeira Angola Tradição, de Mestre Bira, Associação Cultural Capoeira Angola Brasil, Mestre Alfredo e Mestre Heitor, Associação Cultural Angola Areia Sul, Mestre Sorriso, Grupo Pretos Velhos da Vivência de Mestre Chuca, Grupo N`dange, Mestre Jairo, Grupo Cultural de Capoeira Angola Filhos de Bantos, Mestre Pardal, Grupo Pesquisa e Fundamento de Mestre Fabinho, Grupo Ilê de Oxóssi, de Mestre Bonito, coordenado localmente por intermédio da professora Cris Yabá e Grupo Angola Palmares Liberdade Casa Grande, de Mestre Dentinho.

O acadêmico relata na pesquisa que não há dados oficiais dando conta do número de adeptos, mas a prática está presente em todos os bairros, nas redes pública e particular de ensino, com inserção também nas Instituições de Ensino Superior, em associações, clubes, academias, praças e parques, envolvendo crianças, jovens e adultos. Todos os anos há uma gama de atividades responsável por gerar um fluxo intenso de praticantes no Município. Mestres vindos predominantemente da Bahia, mas também de outros Estados, desembarcam no Rio Grande do Sul, com destino a Canoas, para participar de batizados, formaturas e outras cerimônias, rituais e costumes ligados a prática da capoeira e sua formação continuada. Dentro do fundamento da capoeira são detentores da sabedoria popular, promovendo o intercâmbio cultural e acima de tudo passando um pouco de seu conhecimento e sua vivência. Mestres de renome nacional e internacional já passaram pela Cidade, sendo possível encontrar junto aos grupos locais, fotos, filmagens e outros documentos que registram momentos relevantes para a comunidade capoerista canoense.

Em dezembro de 2009, a Lei 5452, de 4 de dezembro, instituiu a possibilidade de regulamentação da preservação do Patrimônio Cultural de origem Africana e Afro–Brasileira do Município de Canoas, o que garante a promoção de registro do Ofício dos Mestres de Capoeira como patrimônio imaterial. Ainda, pela Lei 5433, de 9 de novembro de 2009, foi estabelecida a Semana Municipal da Capoeira, na semana do dia 17 de outubro, no calendário anual do Município".

 

Foto: Mestre Macaô (segurando o berimbau), com seus alunos na Escola Estadual Marechal Rondon, em 1982. 

 

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