Menu

A Semana do Patrimônio entra em ritmo de festa para tratar do assunto do dia: festas como patrimônio imaterial. E quem não gosta de festa, não é mesmo? Mais do que dançar, cantar, degustar pratos ou brincadeiras típicas, as festividades consideradas patrimônio imaterial têm uma carga de tradições cultivadas ano após ano pelas comunidades. Entre no compasso da Bandinha Alemã e conheça um pouco mais sobre o assunto com a pesquisa de Luiz Gustavo de Araújo Kunz, aluno do Curso de História.

Sob a orientação da Profa. Dra. Cleusa Graebin, do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Memória Social e Bens Culturais da Universidade La Salle, Luiz Gustavo pesquisou as festas e celebrações no bairro Niterói e descobriu que existem certas demarcações que destacam o bairro no contexto da cidade, justamente por algumas expressões culturais que projetam determinados imaginários e construções de memória. Ele aponta que as festas são manifestações da cultura de um grupo ou grupo, que expressam valores e crenças, permitindo que se entenda como se organizam no seu espaço de vivência. Sendo manifestações culturais, são também dinâmicas, ou seja, com permanências ou rupturas de acordo com o próprio movimento do grupo e seu dinamismo.

A música, representada por bandinhas, grupos de canto e a culinária como elementos das festas dos alemães, permitem a introjeção de valores, crenças, normas de vida e partilhas coletivas. Isso pode concorrer para uma construção de identificação, uma vez que se compartilha o que é comemorado, se simboliza uma unidade e se produz memória coletiva. No caso do bairro Niterói, ainda não há preocupação de conversão econômica e turística das festas, apelando-se mesmo, para o conviver, celebrar e rememorar uma Alemanha sonhada e imaginada.

Voltando na história

A pesquisa aponta que a presença de imigrantes alemães e descendentes em Canoas está relacionada ao início do processo de urbanização do então distrito de Gravataí, na primeira década do século XX. Assim que se estabeleceram, algumas famílias criaram, em 25/8/1912, uma seção da “União popular para os católicos alemães do Rio Grande do Sul”, cujos membros buscavam promover, além da cooperação mútua, a valorização da cultura étnica.

A partir de 1930, Arthur Oscar Jochims, liderando um grupo de investidores, adquiriu terras na várzea do Rio Gravataí, utilizadas para plantação de arroz, e implantou um loteamento de terrenos com preços acessíveis para trabalhadores com poucas condições de adquirir casa própria em lugares mais valorizados. Nascia assim, em 1931, a Empresa Territorial Nictheroy e o embrião do atual Bairro Niterói. Logo, em 1932, iniciavam as obras de infraestrutura e eram erguidas as primeiras residências de famílias de origem alemã. Logo criaram uma escola a Igreja Evangélica Luterana Cristo e o Colégio Concórdia. Rheinreimer, Poch, Steier, Lindenaum são alguns dos sobrenomes de povoadores do Bairro. Algumas práticas culturais tiveram papel decisivo na construção de enraizamento dessas famílias, entre elas, as festas religiosas, a culinária e a música.

Nos anos 1980 foi criado um grupo chamado Frohgemeinde, inspirado em Fröhlich (em Alemão significa alegria e felicidade) e Gemeinde (comunidade), com casais da Igreja Evangélica Luterana Cristo, cujos membros passaram a estudar práticas já desenvolvidas em outros municípios com forte presença de imigrantes e descendentes de alemães. A partir dos cursos, os elementos de uma chamada “tradição alemã” em danças, culinária, festas foram agregadas aos fazeres dos alemães no Bairro Niterói. Em se tratando da culinária relacionada às festas, remete-se aos saberes que atravessam os tempos e são simbolizadas nas comidas. Essas expressam emoções, sentidos e significados e se constituem como fragmentos que interpelam lembranças, reinterpretando o passado a partir do presente. “Percebe-se que, a partir da revitalização das manifestações do que os moradores do bairro chamam de ‘cultura alemã’, se dá uma aproximação da comunidade estudada com sua própria história. Assim, o Kerb, a Bandinha, as danças e os pratos tidos como típicos se constituem como bens culturais imateriais, passíveis de serem registrados no Livro dos Modos de Fazer e/ou no das Celebrações. Isso remete ao fortalecimento de identificação étnica e cultural, construções marcantes no Bairro Niterói pelos moradores de descendência alemã”, explica a Profa. Cleusa.

 

Foto: Festa das Nações no Colégio Concórdia, em 23/05/1999

Entre em Contato