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Duzentos atendimentos na Street Store. Trinta pessoas aferindo pressão na Cruz Vermelha. Cinquenta crianças atendidas, em oficinas de cultura e higiene. Quatro atendimentos jurídicos. Oito currículos confeccionados. Oitenta e cinco voluntários envolvidos, boa parte deles alunos. A segunda subida ao Pé Pequeno contou com o dobro de atividades oferecidas em relação ao primeiro semestre. Os números são altos, mas apresentá-los está longe de dar a real dimensão do que foi o dia 2 de setembro para a Ação Comunitária (SEAC) e os moradores da comunidade vizinha ao Unilasalle-RJ. É melhor dar a eles nomes, rostos, histórias.

Ana Paula Máximo tem 36 anos, os últimos cinco vividos em Niterói, depois de sair da sua “terra”, palavra dita com a firmeza de quem não esquece de suas raízes. Cearense, ela cria seus três meninos sozinha no Pé Pequeno e tem muito orgulho do que construiu, parte com a ajuda do centro universitário. “Há três anos estava desempregada e o Unilasalle-RJ me acolheu, fui contratada para ajudar nos Serviços Gerais depois de nove meses esperando uma chance em algum lugar. Por isso é meu porto seguro e as pessoas de lá moram no meu coração sem pagar aluguel”, afirmou, “Moro em uma casinha simples, mas segura. Apesar de serem poucas, há moradias aqui em lugar de risco, como a da minha xará, por isso a importância do trabalho da Ação”.

A xará é Ana Paula dos Santos de Melo, secretária da Associação de Moradores e braço direito de Livia Ribeiro nas duas vezes em que a coordenadora do SEAC levou um time e tanto para a comunidade. Em março, Ana Paula Melo recebeu a visita de graduandos voluntários que faziam levantamento para conhecer as condições de vida dos habitantes e conversou com o geógrafo Bruno Ribeiro acerca dos perigos da localização de sua casa. Um grupo de alunos do Unilasalle, comandado pela coordenadora de Arquitetura e Urbanismo, professora Paula Brasil, soube do caso e já se mobiliza para tentar mudar sua realidade. Prova de que bater de porta em porta pode gerar bons frutos, tanto que o levantamento se repetiu no dia 2, sendo agora realizado por novos alunos, pela Defesa Civil e pelo Engenheiros sem Fronteiras.

Mas as atividades não pararam por aí. Um dos serviços mais procurados foi a Street Store. Roupas nos cabides, sapatos em prateleiras, atendentes para receber cada “cliente” em sua “compra”. Tudo faria supor se tratar de uma típica loja de shopping, não fosse ela estar ao ar livre, em um campo de futebol. Quem explica é Lorrana Lopes: “Nossa tentativa é resgatar dignidades. São muitas as doações recebidas por pessoas carentes, mas nunca como se elas estivessem em uma loja, escolhendo o que precisam sem desperdício, saindo satisfeitos. Às vezes fazemos até promoções, uma peça a mais por um sorriso, por um abraço”. Há um ano no projeto, que parte de uma iniciativa internacional, foi Lorrana, enquanto aluna do 6º período de Direito, quem procurou o SEAC para propor uma parceria. “Queremos que essa seja a primeira de muitas ações conjuntas e, claro, que seja um sucesso”, dizia ansiosa a aluna ainda na montagem da estrutura. A grande fila formada antes mesmo da abertura fez cair por terra qualquer dúvida de que seria diferente do esperado. Amanda Figueiredo, de 16 anos, era uma dessas pessoas. “Aqui na comunidade são muitos que precisam e essa é uma maneira diferente de conseguirmos novas peças”, avaliou.

 

 

O Engenheiros sem Fronteiras é outro projeto que iniciou laços com tudo para serem duradouros junto da Ação Comunitária. A estreia no Pé Pequeno foi com oficina de horta caseira para as crianças e apresentação de composteira a elas. O núcleo de Niterói é recente e tem entre seus integrantes alunos lassalistas, mas também de outras instituições, caso de Caroline Faria, recém-formada em Engenharia Química pela UFF. “Nosso objetivo é usar os conhecimentos que temos na nossa área para resolver problemas sociais e trazemos este princípio para o Pé Pequeno junto do Unilasalle-RJ”, esclareceu, “Receberemos os resultados da pesquisa feita com os moradores para propor alternativas e, ao mesmo tempo, fazemos hoje conscientização com as crianças, sobre sustentabilidade e cidadania, incentivando que elas estudem e, quem sabem, se tornem engenheiras um dia”.

 

 

 

 

Tempo de voluntariado

Os pequenos foram justamente o foco de Larissa e também o de Thais. Allan cuidou da música. Gabriel era um dos nomes da infraestrutura. Confira alguns depoimentos dos voluntários daquele sábado.

Larissa Reis, 18 anos, 2º período de Direito (2ª vez no Pé Pequeno - ao fundo na oficina de higenização) – “Eu sempre gostei muito de criança e estar aqui com elas é uma experiência muito boa, especialmente com essas crianças. Você logo percebe que tudo o que elas querem é um pouco de atenção, é só fazer um desenho, contar uma história, ensinar a escovar os dentes, coisas tão básicas. Parece que não faz diferença, mas no final do dia, o que mais escutamos é: ‘Quando você vai voltar?’ ‘Vai voltar amanhã?’. Quando fazemos algo diferente chegamos a ouvir delas que somos exemplo: ‘Quero ser que nem você quando eu crescer’. Não saio na véspera de uma ação e já ouvi me perguntarem se eu ia mesmo trocar uma noite de diversão por caridade. Uma noite a menos da minha vida saindo não se compara à diferença que essas crianças vão sentir amanhã. É muito gratificante vê-las se sentindo importante e felizes, como as mães de maternidade pública que já fui visitar, como os moradores de rua que recebem sopão. Comecei a me dedicar mais ao voluntariado na faculdade, quando conheci o SEAC e espero que todos possam passar por esta experiência”.   

 

    

Thais Sousa, 19 anos, 2º período de Sistemas de Informação (1ª vez no Pé Pequeno) – “Eu entrei no Unilasalle-RJ em março e fui aos poucos me informando, conhecendo todos os setores. Como eu sempre fiz doação de roupas, sapatos, desde criança, eu quis dar uma força aqui no centro universitário ajudando o próximo. Juntei o útil ao agradável quando descobri a Ação Comunitária. Vim para o Pé Pequeno sem estar ainda em um grupo específico, mas o que aparecer eu farei com amor. A subida à comunidade, com conscientização, serviços, doação, pode fazer com que essas pessoas queiram passar isso tudo adiante”.  

 

Allan Pollery, 23 anos, 7º período de Administração (2ª vez no Pé Pequeno) – “Eu venho de Pastoral da Juventude Estudantil, da época em que estudei no Colégio Nossa Senhora das Mercês. Na PJE, já tinha feito alguns trabalhos de voluntariado. Participar do Encontro de Lideranças Lassalistas Universitárias (ELLU) também me incentiva a querer estar dentro da Ação Comunitária. Este semestre, infelizmente, me afastei um pouco devido ao trabalho e à faculdade no turno da noite. Vim, mas não estava 100% inteirado do que ia acontecer. Obviamente, agora dá para ver a grandiosidade em relação à primeira subida. Não consegui trazer a oficina de DJ que ministrei da última vez, porém estou aqui, era para estar trabalhando, mas pedi liberação. Fora do SEAC, participo de ONGs, sempre procuro abraçar causas. Há algumas semanas participei de evento no trevo de Piratininga, com um grupo chamado ‘Semeando a alegria’, toquei de graça e todo o couver foi revertido para a ONG. E é algo de família. Minha irmã é da IFRJ, presidente do grêmio, e lá eles ajudam uma ONG em Bangu. Não é só por hora complementar, o que for, é mais para ajudar o outro, vai além”. 

 

Gabriel Borges, 20 anos, 4º período de Engenharia de Produção (2ª vez no Pé Pequeno) – “Não escolhemos onde vamos nascer. Eu tive sorte, graças a Deus, mas essas pessoas não tiveram exatamente a mesma. É como se Deus estivesse me dizendo: ‘Olha, você nasceu em uma condição boa, tem gente que não tem o mesmo, você está aí para ajudar’. Nascemos com este dever. Então, como católico também, me vi na obrigação de fazer parte disso. Minha primeira vez aqui no Pé Pequeno foi em março. Foi bem agitado. Por mais que eu soubesse o que tinha que fazer, por mais que estivesse no nosso planejamento, na hora da prática é muito diferente. Sou tímido e isso também dificultou. Mas, ao longo daquela ação fui me soltando, a vergonha foi passando, eu comecei a trabalhar. Quando tudo terminou, senti como uma missão cumprida, me senti bem por ter feito algo para várias pessoas. Agora a expectativa é ainda maior. Daquela vez teve bem menos gente, agora temos mais público e mais parceiros”.  

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