- Intercâmbio entre cursos permite o uso de técnicas de argumentação nos cursos de Arquitetura, Pedagogia, História e Relações Internacionais
- O JULGAMENTO DE HUNDERT
- SIMULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
Ao entrar na sala do 11º andar não é difícil imaginar o juiz com sua toga preta e o martelo nas mãos. À direita dele o promotor. À esquerda o escrivão. Sete pessoas representando a sociedade compõem o júri enquanto o advogado, na tribuna, garante o direito do réu à defesa. O que é rotina para alguns é descoberta para os demais, numa grande sinergia entre cursos do Unilasalle-RJ. Neste semestre, professores e alunos de Arquitetura e Urbanismo, História, Pedagogia e Relações Internacionais vivenciaram a atmosfera de um tribunal, ao participar de atividades com emprego de metodologias ativas na Sala de Júri Simulado.
O espaço foi inaugurado há dez anos para receber a Oficina de Argumentação e Discurso Jurídico, por meio da qual os alunos de Direito desenvolvem a habilidade da argumentação, antecipando o que viverão na prática. As aulas ministradas pelo professor Sandro Marino já são uma marca registrada do curso por acontecerem desde o segundo semestre de 2007. Mas foi em 31 de março de 2009 que o Unilasalle-RJ ganhou seu tribunal para sediá-la. O que talvez não se esperasse àquela época, no entanto, era o intercâmbio que a Sala de Júri Simulado tem proporcionado. “Eu acho muito importante que tenhamos esses eventos para integrar os cursos, de forma que os alunos tenham esta vivência fora de suas áreas de conforto, apesar de serem áreas afetas”, avalia Tatiana Trommer, coordenadora do curso de Direito.
No caso de Arquitetura e Urbanismo, a proposta de utilizar o Júri Simulado veio da professora Elisabete Reis, na disciplina Teoria e História da Arquitetura das Artes 2. No dia 6 de maio sua turma de 3º período realizou um confronto entre os principais arquitetos modernistas. O estadunidense Frank Lloyd Wright, o francês Le Corbusier, os alemães Walter Gropius e Mies van der Rohe, além do finlandês Alvar Aalto tiveram seus projetos arquitetônicos defendidos pelos alunos. Divididos em grupos, os graduandos construíram maquetes e análises gráficas para apresentar como provas, além de incorporarem o papel de promotores, dirigindo perguntas ao arquiteto rival. Mediando as falas estava o juiz, representado pelo professor Andre Miranda, do curso de Direito. Ele conduziu as discussões entre os arquitetos e os promotores, além de organizar a votação dos jurados. Numa sala à parte, o júri tomava a sua decisão. Para integrá-lo, professores de Arquitetura e Urbanismo se uniram a estudantes do 3º e 8º períodos de Direito. A cada confronto, Lorraine Queiroz, uma das docentes que orienta a atuação dos discentes no Núcleo de Prática Jurídica, fazia a contagem dos votos e era dado o veredicto. Confira depoimentos de graduandos e docentes envolvidos na atividade:
“Essa interação entre cursos amplia a nossa visão de mundo e isso é particularmente interessante para a abordagem e compreensão da Arquitetura. Quanto mais plástica for a nossa capacidade de compreender o mundo que nos cerca mais aptos estaremos para o processo de transformação não só dos espaços à nossa volta, mas de um mundo mais flexível, mais humano e melhor”.
“A experiência de defender o projeto de um dos arquitetos modernistas no Júri Simulado, como se fosse o próprio projeto, despertou o senso crítico e maior maturidade dos alunos. A prática adotada faz parte de mais uma das atividades que compõem o projeto Sala de Aula Viva, a partir do qual empregamos metodologias ativas de ensino no curso de Arquitetura e Urbanismo”.
“Muito interessante a integração de alunos de cursos que parecem ser tão diferentes, mas que percebemos que são próximos. Os graduandos de Arquitetura deram um show nas apresentações, se caracterizaram fisicamente e realmente abraçaram a causa”.
"O curso de Arquitetura do Unilasalle tem sido um grande aprendizado. O Júri Simulado aparentemente não tem relação com o curso, mas o exercício lá ajudou muito. Pudemos de fato nos sentir aquelas personalidades vivendo em suas épocas, buscando implementar seus ideais para a construção de uma sociedade melhor. O exercício fez com que eu me sentisse o próprio Alvar Aalto por semanas enquanto estudava, podendo incorporar seus pensamentos e sentimentos baseados nos seus anos vividos, me inspirando em todo o conhecimento dele para pensar a minha própria maneira de projetar. Não tinha como decorar, precisava de fato entender sua forma projetual. Acredito que nunca mais esquecerei este grande arquiteto e todos os outros que estudei esse semestre".
“A experiência do Júri foi como mergulhar na vida e obra de cada arquiteto escolhido e entender o marco que cada um representou no contexto do Modernismo. Tivemos muito respeito por eles, a ponto de defendermos seus pensamentos na frente de jurados. Esse trabalho me deu o sentido do que é a interdisciplinaridade: uma conexão incrível de conteúdos, aprendizados e profissões, levando-nos à vivência”.
Um mês depois dos arquitetos, o tribunal receberia outro réu: Arthur Hundert. O protagonista de O Clube do Imperador (2002) foi levado a juízo pela docente Rita Vignoli, como atividade da disciplina Teoria e Prática Pedagógica I. A turma contempla alunos do 1º período de História e Pedagogia e no dia 4 de junho foi dividida entre defesa e acusação para o julgamento fictício de Hundert.
O personagem, interpretado pelo ator Kevin Kline no cinema, é um professor que busca inspirar seus alunos, com foco na formação do caráter deles. Ao se aproximar do aluno Bell, filho de um senador e grande desafio em sala de aula, Hundert vai contra suas próprias noções de ética ajudando-o a entrar em um concurso da escola para estimulá-lo a estudar mais. O mestre não esperava, no entanto, que seu pupilo usasse de artimanhas para vencer a disputa.
Após leitura e debate de autores que refletem sobre a didática pedagógica, foi a hora de seguir para o Júri Simulado, ideia que partiu de um aluno. Rômulo Almeida, calouro de História, foi quem teve o insight: “No dia da atividade, a coordenadora Eloisa Souto lembrou que somos a primeira turma tanto de Pedagogia quanto de História a desenvolver atividade no Júri Simulado. Foi gratificante saber que podemos usar um espaço para aprofundar a formação de licenciatura. É uma oportunidade de imergir no que é passado em sala de aula. Conseguimos colocar conceitos de teóricos como Maurice Tardif em prática”.
Construir argumentações a partir da teoria trabalhada em sala era exatamente o objetivo de Rita Vignoli, proposta que a fez organizar a aula no Júri Simulado em quatro momentos. No primeiro deles, defesa e acusação posicionaram-se a respeito de Hundert, com a abordagem da sua postura profissional, influência como educador e de sua imagem frente à comunidade escolar. Em seguida, defesa e acusação tiveram direito de arrolar testemunhas, qualquer outro personagem de O Clube do Imperador. Após as testemunhas, defesa e acusação apresentaram suas conclusões até, por fim, o juiz, professor Ronald Quintanilha, anunciar a sentença. Arthur Hundert foi considerado culpado.
No caso do curso de Relações Internacionais, não houve absolvidos ou inocentados, mas sim muito debate para chegar à conciliação. No último sábado, 6 de julho, o Júri sediou uma simulação de Conferência das Nações Unidas. A atividade idealizada por Leticia Simões fez parte da disciplina Atividade Integradora 3, do curso de Relações Internacionais, e contou com a participação dos alunos de Ensino Médio do Colégio La Salle Abel.
O tema da conferência foi a Agenda 2030, plano de ação proposto por líderes mundiais na sede da ONU em 2015. Com o objetivo de erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir o alcance da paz e da prosperidade, os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda foram discutidos na simulação dos estudantes.
Confira depoimentos de alunos e professores envolvidos na atividade:
“A participação em um modelo das Nações Unidas é sempre interessante para um aluno de Relações Internacionais, mas a utilização de um espaço como o Júri Simulado oferece algo a mais. O lugar favorece a imersão num contexto formal, no qual nos colocamos no papel de diplomatas e onde devemos proceder de forma coerente com a realidade. Essa experiência ensina a concatenar os conhecimentos adquiridos em sala de aula e utilizá-los para embasar nossas afirmações. Além disso, não poderia deixar de comentar a prática da expressão oral, quesito extremamente valorizado tanto no meio diplomático quanto no empresarial”.
“Participar da organização da simulação foi uma experiência única. Colocamos em prática conteúdos que normalmente só ouvimos em sala. Poder usar a Sala do Júri Simulado acrescentou muito ao criar um cenário mais real”.
“A ideia desde o início era que os alunos do centro universitário preparassem este evento e convidassem os estudantes do Abel, pois o colégio já desejava promover uma simulação do tipo. Chamamos alunos nossos que já participam de simulações da ONU e trouxemos como tema a Agenda 2030, uma pauta muito debatida atualmente. Criamos um manual de regras, fizemos uma pesquisa dos países envolvidos e cada grupo de graduandos confeccionou um card sobre eles, posteriormente compartilhado com os alunos do colégio”.
“Quando fomos convidados pela professora Leticia para fazer parte da proposta, vimos primeiro como uma possibilidade de integração entre o colégio e o centro universitário. Estamos dentro de um mesmo espaço. Além dessa integração, é interessante para a própria formação dos alunos, fora que enriquece muito a escolha profissional deles. Durante a semana, eles demonstravam ansiedade em participar, preocupação por estarem envolvidos. Enquanto coordenador do Ensino Médio agradeço a possibilidade de fazer parte deste momento significativo. Percebemos nos nossos alunos um grande conhecimento, formação para o vestibular mas, muitas vezes, falta a eles essa noção da profissão. Boa parte do grupo que está participando hoje já mostrou o desejo de iniciar um curso de Relações Internacionais”.
Por Luiza Gould / Colaborou: Camila Reis
Ascom Unilasalle-RJ