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Para a escritora Clarice Lispector (1920-1977) é “o retrato de um côncavo, de uma falta, de uma ausência”. Para o fotógrafo Ansel Adams (1902-1984) ela não é feita apenas com uma câmera, no seu ato “trazemos todos os livros que lemos, os filmes que vimos, a música que ouvimos, as pessoas que amamos”. O companheiro de carreira, Henri Cartier-Bresson (1908-2004) acredita ser “o único dos meios de expressão a fixar para sempre o instante preciso e transitório”. Já o músico Ed Sheeran a usa para falar de amor. Afinal, com ela “você pode me guardar no bolso do seu jeans rasgado, me abraçando perto até nossos olhos se encontrarem” (So you can keep me inside the pocket/ Of your ripped jeans/ Holding me close until our eyes meet). A fotografia está na literatura, na música, na arte e, mais uma vez, na Galeria La Salle. Na última segunda-feira, dia 28, a turma de “Fotografia – Introdução às técnicas e composição fotográfica” inaugurou “Olhares em Foco Parte 2”.

A mostra do curso de extensão do Unilasalle-RJ apresentou tanto nomes já conhecidos quanto estreantes. Marcelo Huguenin, de 28 anos, fez parte do primeiro grupo do professor Fernando Talask, no início do ano, e além de trazer novos clicks à Galeria, foi monitor dos calouros. No seu caso, participar das aulas ajudou a complementar um aprendizado, até então, autodidata: “Há três anos eu consegui comprar a minha primeira câmera profissional, mas nunca pude pagar um curso, treinava sozinho. Surgiu esta oportunidade e pude aprimorar muito mais as fotos”. O resultado, ele conta, é perceptível na cobertura que faz do Festival de Rap e Cultura de São Gonçalo e nas próprias imagens expostas. Entre suas preferidas, Huguenin lista “Janela do Redentor”, na qual o Cristo recebeu uma moldura pelo ângulo trabalhado, e “O Vigia”, do Forte de São Luiz, em Niterói.

 

Sobre o contato com os pupilos mais recentes de Talask, o veterano conta que se surpreendeu pela categoria dos olhares. Apesar da média de idade da turma ser a metade da anterior, eles mostraram a que vieram. Que o diga Joanna Besteiro. Com 15 anos, ela fala com propriedade sobre a profissão de fotógrafa. “Eu queria ser atriz, fiz muitos cursos, mas percebi que sou melhor atrás das câmeras do que diante delas”, revelou na inauguração, “Quando pequena, pediam para eu tirar uma foto, eu clicava de qualquer jeito e saía bom, comecei a me apaixonar por isso, quando vi estava aqui. É o que quero seguir na vida agora”.

A estudante do colégio Opção trouxe cinco fotos para a mostra, mas sua preferida é “Beleza do mais simples”, com uma margarida em primeiro plano e o fundo desfocado. A dificuldade para equilibrar de um lado uma câmera pesada, e do outro, a florzinha não é imaginada por quem aprecia a imagem. “O difícil me faz lembrar que consegui chegar onde eu queria”, concluiu.

 

ENSAIOS COM MOTIVAÇÃO PESSOAL

No Anfiteatro Irmão Hilário, ponto de encontro das promessas da fotografia todas as terças-feiras de 6 de setembro a 8 de outubro, Joanna era inseparável de Mariana Possollo, de 16 anos. A dupla de personalidade extrovertida participou do passeio fotográfico realizado durante as aulas no Campo de São Bento e fez muita brincadeira nos bastidores. De câmera na mão, no entanto, o assunto fica sério. Para fazer seu registro da lua, Mariana, assim como a amiga, precisou de concentração. “Foram quatro tentativas de foto porque não tenho tripé, só uma bancada em que me apoiei segurando a câmera”, relatou, explicando em seguida o significado do objeto fotográfico: “Eu tenho um pouco de distanciamento de alguns parentes e penso que sendo a mesma lua, o mesmo céu, estamos perto. A fotografia sempre foi a minha forma de eternizar os momentos”.

   

O significado ligado a um motivo pessoal também orientou as escolhas temáticas de Adriana Torres. A funcionária administrativa de 33 anos, assim como Huguenin, é remanescente da turma pioneira. No “Olhares em Foco”, ela compartilhou seus ensaios com gestantes, que voltaram à pauta em “Olhares em Foco Parte 2”. A exposição atual, no entanto, tem uma grávida especial para ela, a irmã Arilene. O sobrinho Miguel foi retratado tanto na barriga quanto no primeiro mês de vida, com apenas 19 dias. “Quero me especializar em newborn e esta foi a minha estreia em montagem de cenário, composição da pose, contato com o bebê. Se tornou especial por essa ser a primeira vez e por ser com ele. Mas lidar com a emoção foi difícil”, explicou.

A terceira vertente presente na mostra é a do casamento. Adriana decidiu compartilhar o seu primeiro trabalho fotográfico em um matrimônio. Além da pouca experiência na época, a falta do equipamento adequado e a responsabilidade, ela teve que lidar, novamente, com os sentimentos, mas tirou o desafio de letra. O álbum que ajudou a montar como assistente recebeu elogios. Juntando todos os ensaios, a fotógrafa selecionou entre mais de 500 imagens as oito apresentadas na Galeria La Salle.

Com histórias como essas, o mestre é só orgulho: “De início fiquei preocupado em qual linguagem usaríamos em sala por lidarmos tanto com o público de 50 anos, quanto com alunos de 15. A ideia para tentar resolver esta equação foi usar a teoria combinada à prática. A aula estática com perguntas deu lugar a aprender a iluminar para valer e comentar as fotos. O resultado veio nos ensaios fotográficos, os enquadramentos surgiram de forma mais natural, a integração foi um ganho grande”. Fernando Talask adianta que para o ano que vem a simbiose será ampliada, com a finalidade do “curso de fotografia ser cada vez mais interativo”.  

"Olhares em Foco Parte 2" fica em cartaz até dia 10 de dezembro. Visitações gratuitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h.

Relembre aqui como foi a exposição "Olhares em Foco", de junho. 

 

Momentos de descontração passeio Campo de São Bento

 

Momentos de união passeio Forte São Luiz

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