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As linhas brincam na página em branco, sobem, descem, realizam curvas, se afastam, se encontram e criam uma forma. A tarefa passada é preencher o rosto vazio, construído sempre a partir da mesma trajetória de linhas. Nenhum resultado, no entanto, será igual, pois a criatividade para eles não tem limite. E, assim, a tinta sai daquele contorno estabelecido, transborda em uma explosão pela página inteira e, tamanha a mistura de cores, camada por camada, nos deparamos com uma tela completamente preta. Os alunos ganham mais uma forma de se expressarem, dando voz à imaginação tão cara à construção de suas personalidades. Em contrapartida, o arquiteto Sandro Henrique Silveira consegue ricas contribuições para a sua pesquisa acerca da identidade.

Professor de desenho técnico nos cursos de Engenharia do Unilasalle-RJ, Silveira desenvolveu com o 2º período da Escola La Salle RJ projeto que tem tudo para abranger outras turmas futuramente. Durante vários encontros, ele trabalhou ao lado de crianças e professoras a representação de si mesmo e do outro, através de ilustrações, pinturas, uso do lápis de cor e giz de cera, dando continuidade a um trabalho iniciado em 2000. “O projeto se chama ‘Identidades’ e é uma coletânea de rostos. São faces repetidas, algumas de pessoas reais, mas a maior parte são traços que vão aparecendo para mim. Uma jornalista, de quem fiquei amigo, foi quem reparou a influência da minha profissão de urbanista nas obras, com a preocupação geométrica, e resolvi trabalhar isso”, conta o artista.

O tema surgiu para Silveira a partir da perda de um irmão, figura importante para a composição de sua própria identidade. Apesar do forte mote, foram seis anos afastado dos desenhos – “Uso o nascimento da minha filha com a desculpa de que eu queria me dedicar integralmente a ser pai, mas no fundo é possível manter várias atividades afins, talvez tenha parado mais por receio” – até retomar.  A volta foi com proposta de mostra, já com nome: “Identidades, uma geometria da memória”. Atualmente, Sandro Silveira busca um espaço no qual a exposição possa ser abrigada.  

Com vocês, os pequenos artistas

A proposta na La Salle RJ era desenvolver interpretações da obra “Quase tudo, quase nada”, na qual os rostos aparecem em quatro fases, diminuindo de altura e largura até surgir uma única imagem composta por inúmeras ilustrações em 3x4. A dimensão não é por acaso, afinal a foto que nos identifica em qualquer tipo de documento segue este padrão. “Fiz as duas primeiras peças e o restante eles completaram”, lembra Silveira, “Acredito muito no que Lygia Clark dizia através das suas criações: Todos podem ser artistas. As peças delas incitam à interação do público. Lembro de levar uma turma para exposição da Lygia na Casa França Brasil e, logo na entrada, haviam cortinas apertadas, obrigando os visitantes a separá-las para passarem, chamava-se ‘O Penetrante’. Parecia como um nascimento”.

Os artistas desenharam si próprios e os colegas em folhas de variados tamanhos. Recolhidas as contribuições, esses materiais irão agora ser organizados em um painel, com o objetivo de “as crianças se sentirem pertencentes a um processo de construção”. O próximo passo é criar uma mostra na Galeria, convidando alunos e parentes para a abertura, quando também será conhecido o documentário da experiência.  Ao longo do processo criativo, uma câmera profissional observava tudo de perto. Por trás dela, estava Ricardo Prego. Cineasta e proprietário da produtora Bogotá Filmes, Prego grava as diversas atividades artísticas do amigo Sandro Henrique Silveira, e as ações na escola não ficaram de fora: “Quando venho documentar as crianças, venho em busca delas testando os próprios limites e muitas vezes os extrapolando. Achamos que elas estariam muito atraídas pela forma do que apresentamos, acabaram ficando mais pelas cores que poderiam usar”.

Além das cenas do 2º período com a mão na massa, o conteúdo audiovisual contará com trechos das entrevistas com eles, realizadas por Prego. Na busca por conhecer as identidades da turma, o cineasta fez perguntas como “Do que você gosta?” para duplas de alunos. Nas respostas, nada de videogame ou tecnologia. “A única vez que o celular foi citado foi na reclamação de um menino que queria brincar com a irmã, mas ela fica muito no celular”, recorda Ricardo Prego. As bem traçadas linhas que formam os pequenos lassalistas, não deixam de surpreender em suas trajetórias...  

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