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A menina com a boneca de pano na mão deveria estar no jardim de casa, fazendo sua “filha” voar pelos ares, ser dona do mundo. O menino a brincar com os carrinhos pelas beiradas da cama, na verdade, só precisava estar cheio de saúde para fazer o carro ganhar supermotores, e correr a uma velocidade incrível ao descer pelo escorrega. O câncer é o sopro de angústia do século e uni-lo à palavra criança na mesma frase é vendaval, daqueles que trazem tempestade. Mas, talvez mais guerreiras que muitos adultos, elas lutam bem contra as nuvens. Após sair vencedor deste cabo de guerra, por que não um presente para lembra-lhes da doçura dos dias que hão de vir? Por que não relembrar o significado da vida vencendo a morte na Páscoa? Para abraçar cada um desses pequenos heróis, o Setor de Ação Comunitária juntou mais uma vez seu time para a confecção dos ovos enviados às crianças que passaram por tratamento no Instituto Nacional do Câncer, o INCA.

Este ano o time foi grande, aproveitando a disposição dos alunos de diversos períodos em começar o semestre com voluntariado. Reunidos no terraço do oitavo andar, esses interessados no bem raspavam e picavam chocolate, derretiam chocolate, davam forma a chocolate e embalavam chocolate no dia 30 de março. Bastante marrom e branco a pintar aventais, panelas e formas, em um processo da qual emergiria o coração do SEAC. Com Jean Trindade mexendo de um lado a matéria-prima e Francisca Rodrigues manuseando de outro, os pedacinhos cortados para ainda irem ao fogo acabaram por formar o símbolo do amor, uma prova da sintonia daquele momento.

“Acho que é o espírito da Quaresma, fazer mais pelo próximo. Eu poderia estar em casa, estudando, assistindo Netflix ou em alguma outra atividade, mas estou disponibilizando o meu tempo para deixar crianças felizes”, afirma Francisca, de 19 anos, ao explicar o motivo de participar da ação. Foi uma estreia para a estudante do 3º período de Administração ir à cozinha e colocar a mão na massa, mas não estar envolvida com ovos: “No ano passado, fui madrinha na Escola La Salle RJ, passei pela experiência de comprar o chocolate e ir caçar com minha afilhada a surpresa de Páscoa. Foi muito bom ver aquela animação e o brilho nos olhos dela”.

Franciany Rodrigues, de 24 anos, por sua vez, se sentiu em casa ao lidar com as panelas e espátulas. Há quatro anos, ela confecciona ovos de chocolate e brownie para fazer uma renda extra. “Eu realizei curso de gastronomia e confeitaria, mas fazer no dia a dia é diferente de estar aqui hoje. Para o INCA, estou ajudando quem realmente precisa. Como já trabalho na Pastoral e estou aprendendo muito com a Livia (Ribeiro, coordenadora do SEAC) e o Thiago (de Oliveira, contratado este ano para integrar o setor), encaro como mais um aprendizado”, avalia a estudante do 7º período de ADM. A Fran, carinhosamente chamada, entrou no lugar de Trindade como estagiária da Ação Comunitária, e os dois produziram juntos os ovos no dia 30.

Mas, nesta cozinha improvisada também tem espaço para mães, como não? Maria da Penha Gomes Barreto é mãe da Mariana, egressa de Relações Internacionais do Unilasalle-RJ e agora graduanda de Direito. As duas conheceram o centro universitário na formatura do curso de inglês da filha, e se encantaram pela estrutura. Criando com dificuldade a futura advogada em Itaipuaçu, vê-la formada e embarcando em novos planos deu à Maria uma vontade de se envolver mais com a filosofia lassalista, para quem sabe, lá na frente, cursar algo na área de gastronomia. “Surgiu esta oportunidade de participar, mas tinha que visitar uma amiga em tratamento justamente no INCA. Ela acabou me incentivando a vir para cá, está sendo maravilhoso”, analisou na ocasião, “É um trabalho muito bonito, vamos ver quantos ovos vão sair”.

Nisso podemos ajudar, Maria. Foi um total de 75 ovos, parte deles concluídos pela nova turma da Oficina de Doces e Salgados para Mulheres, na última sexta-feira. O número é recebido com alegria pela coordenadora Livia Ribeiro: “Ano passado foram 48 ovos, houve um aumento muito grande porque o envolvimento foi muito maior. Desta vez, o chocolate não vai para as crianças em tratamento, e sim para ex-pacientes e suas famílias, por determinação do INCA. Então, decidimos doar 40 ao instituto e outros 35 serão distribuídos às crianças do nosso entorno, na comunidade do Pé Pequeno. Apesar das crianças ainda internadas não receberem, foi uma alegria ver alunos, mulheres confeiteiras, professores envolvidos. Tivemos a certeza de que não era melhor comprar os ovos, porque o tanto de amor que tem nesses presentes imperfeitos, amadores, não se compara”.  

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