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“O chefe da folia/ Pelo telefone manda me avisar / Que com alegria / Não se questione para se brincar”. E se é para celebrar a felicidade, “Entra na roda, morena, pra ver/ Ó balancê, balancê”. Mas no meio da festa, uma mudança de rumo... “Um pierrô apaixonado/ Que vivia só cantando / Por causa de uma colombina/ Acabou chorando, acabou chorando”. Triste, ele canta: “A mesma praça, o mesmo banco / As mesmas flores, o mesmo jardim/ Tudo é igual mas estou triste, / Porque não tenho você perto de mim”. Até que alguém brada de longe: Como ficar assim, na “Cidade Maravilhosa/ Cheia de tantos mil/ Cidade Maravilhosa/ Coração do meu Brasil”?. E não é que é verdade? Melhor fazer como naquela música. “Deixa a vida me levar/ Vida leva eu/ Deixa a vida me levar / Vida leva eu/ Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu”. Pena que a hora agora já está adiantada e “Não posso ficar nem mais um minuto com você/ Sinto muito amor, mas não pode ser / Moro em Jaçanã / Se eu perder este trem, que sai agora às onze horas/ Só amanhã de manhã”.

Nas vozes dos músicos e músicas da Casa Convívio, a união de cada trechinho daquelas canções que marcam nossas vidas constrói um belo enredo. Na última terça-feira, 8 de novembro, os elegantes senhores e senhoras vieram escrever mais um capítulo de suas histórias no Unilasalle-RJ, em apresentação para parentes, amigos, colaboradores e estudantes universitários. A partir de 2012, o Auditório La Salle passou a receber o show uma vez por ano, sempre com lotação esgotada. Aline Monteiro Pereira, de 30 anos, é aluna do 6º período de Pedagogia e acompanha o coral de idosos no centro universitário há três anos. “Fico renovada por estar aqui, me enche de esperança. Sinto que mais recebo do que prestigio em si. É um momento de emoção, contagiante, eles se empolgam, vão para frente de forma espontânea, começam a sambar”, resume a discente, “É bonito ver também o trabalho dos voluntários, a felicidade de estarem juntos”.

Os voluntários a que Aline se refere são tanto os que dão suporte no dia a dia do espaço  quanto os membros da orquestra. Localizada em Santa Rosa, a Casa Convívio oferece uma série de oficinas – moda, artes, decupagem, arteterapia, atualidades, literatura, memória – para a terceira idade. Os idosos passam o dia envoltos na cultura e saem ao final da tarde, exercitando, neste tempo, a felicidade, cantada por quem participa da oficina de música, o coral da maestrina Rosa Arantes Salgado. Há duas décadas com experiência no canto, Rosa logo lembra de uma canção com o nome da pessoa quando é apresentada a alguém, diz ter se curado de um câncer de mama graças a dós, rés e sustenidos e chegou à Casa 16 anos atrás, pouco depois do início do projeto, para superar a morte do marido.

 

“Primeiro tentei ensinar trabalho manual, mas não deu certo. Então optei pela música. Não tinha experiência com partitura, só tenho um ouvido bom e esta formação no canto. Mas olhei para as minhas meninas e sabia que tinha que fazer isso. Juntamos três mulheres, peguei músicas de carnaval, o samba antigo, Noel Rosa, resgatei um pandeiro de casa e tirei um som daquelas mulheres...”, conta, “Decidimos montar uma rodinha de samba. Pouco depois um amigo falou de um festival de corais no Municipal de Niterói, pensei que era loucura. Na mesma época, porém, ganhamos um piano e entrou uma voluntária que tocava. Com ela, resolvi arriscar. Fomos ao palco”.

O que começou com um “pandeirinho velho” rendeu vários espetáculos no Municipal pelo projeto “Viva Idoso”, da prefeitura. Fora as exibições em aniversários e eventos. Para o repertório trazido desta vez ao Unilasalle-RJ, o grupo ensaiou durante um ano. Pode até parecer cansativo para alguns, mas Dona Zuzu é só animação. Com 93 anos, “94 até o fim do ano, se Deus quiser”, ela canta “desde sempre” e está no coral “porque me faz bem”. Só sorrisos, Dona Zuzu fez bonito no solo que ganhou de Rosa. Pegou o microfone e cantou sozinha boa parte de “Leva meu samba”, de Ataulfo Alves, uma prova e tanto de que quem canta os males espanta, como também defende Irmã Cândida, a diretora da Casa Convívio.

“Eles adoram cantar. A música é muito importante para a parte cognitiva, para as doenças senis, mas também para qualquer um, resgata lembranças, sentimentos”, avalia a Irmã, descrevendo a Casa como “um trabalho pequeno, não é um lugar que existe para ganhar dinheiro, abrimos portas para os que não podem pagar e, para os que podem, com o que podem contribuir”. Na ocasião, a diretora lembrou aos presentes do carro-chefe da instituição este ano, o “Trem da Misericórdia”.

Pegando carona no vagão do Ano da Misericórdia, idealizado pelo Papa Francisco, a Casa Convívio coordenou campanha para auxiliar 70 comunidades ribeirinhas e do Alto Rio Madeira, em Rondônia, que agora recebem doações “nas duas pontas da vida”. Com “Aquecendo o bebê à distância”, as mães recebem um kit para o parto. Já “Abraçando o idoso à distância” consiste em um kit contendo fraldas, toalhas, itens de higiene, roupas de cama, camisola, pijama, entre outros materiais.

Encerrando a noite, Irmã Cândida realizou uma homenagem à Angelina Accetta, coordenadora da Galeria La Salle, responsável por sempre trazer o coral. Ela agradeceu à “irmã de coração” por sua “grandeza de amor”. A despedida musical foi ao som natalino, com muitos abraços, no palco e na plateia.  

Veja abaixo o repertório completo do show do dia 8/11:

“Deixa a vida me levar” – Zeca Pagodinho

“Pelo Telefone” – Donga

“Leva meu samba” com solo de Dona Zuzu – Ataulfo Alves

“Madalena do Jucu” – (gravada por Martinho da Vila)

“Hino de Exaltação à Magueira” com solo de Thereza – (Jamelão)

POUT-POURRI TREM: “Trem das onze”; “O trem atrasou”; “Zé marmita”

POUT-POURRI RECORDANDO OS FESTIVAIS DA MÚSICA: “A praça”; “A banda”; “Recordar é viver”; “Aurora”; “Pierrô Apaixonado”; “Cidade Maravilhosa”; “Está chegando a hora”

“Noite Feliz” 

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