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Pinceladas de Van Gogh na polenta com camarão, de Harald Engelbart (prato ao lado). Cubismo de Picasso na “La Dolce Vita” (abaixo, à esqueda), de Ana Helena Lemos. Surrealismo de Dalí na “Pasta Ripiena” (abaixo, à direita), de Márcia Duncan. Quando a culinária se aproxima da pintura é porque as mãos dos chefs e de seus assistentes (os alunos do “Jovem na Cozinha”) transformam comida em arte. Na 3ª Feira Gastronômica do Unilasalle-RJ foram muitas obras primas, além de debates, mostra fotográfica, música e food bikes.  

 

A maratona culinária dos dias 29 e 30 de junho começou com suas raízes fincadas em solo verde e amarelo. A chef Mariana do Valle, uma das expoentes do Slow Food, deu cara brasileira ao risoto com ingredientes típicos do nosso país como castanha do Pará, queijo canastra e abóbora. À tarde falou em palestra sobre o movimento criado pelo italiano Carlo Petrini. De olho na terra, o Slow Food prega que o alimento deve ser bom (saboroso), limpo (produzido sem degradar o meio ambiente) e justo (preços que beneficiem tanto o produtor quanto o consumidor). Graduandos de Gastronomia, os amigos Denis Jucá e Aline Sanuto aprovaram as aulas:

“Foi ressaltado a necessidade de respeito ao alimento, a forma de lidar com ele. Como a Mariana falou no primeiro workshop, precisamos ‘fechar o ciclo’, ir desde a terra, onde cultivamos, até o momento de servir ele na mesa. Esta é a lição que levo hoje daqui”, afirmou o securitário e estudante de 31 anos. Aline, de 39, lembrou que o tema é atual e necessário. “Participar nos agregou muito conhecimento. O Slow Food é uma tendência importante para a conscientização de uma alimentação saudável, voltando às nossas origens, em contato com o produtor”.

 

A dupla chegou às 11h para o primeiro evento da programação e às 20h30 ainda estava no Unilasalle-RJ, degustando os pães preparados pela chef Cida Bodstein. “Assistimos a todos os workshops de hoje, tínhamos que ficar para a Cida, que foi nossa professora e é mestre, sem dúvida. A cada aula com ela você aprende algo novo, mesmo já tendo feito aquela disciplina”.

Com o nome “Pães rústicos – tradição e cultura”, a penúltima apresentação prática do dia também foi voltada para um olhar mais consciente em relação à comida. Cida ensinou a fazer um fermento natural e deu dicas para deixar a massa igual ao da padaria a partir de adaptações no forno. “Adorei ministrar o workshop”, disse ela ao término dos seus 40 minutos, “As dúvidas levantadas sempre levam a um incremento profissional. Em contrapartida, deixo para eles a mensagem de que quanto mais artesanal for o processo de confecção, quanto mais lento, quanto menos aditivos e produtos refinados usarmos, teremos muito mais aroma e sabor na panificação. Acredito que o futuro da área esteja nesta vertente”.

 

Da massa saindo do forno à berinjela. Ingrediente para qual muitos torcem o nariz, o fruto foi preparado de três formas diferentes por Vicente Maia ao longo da noite e quem nunca tinha provado saiu gostando. O primeiro workshop ao ar livre da Feira Gastronômica encheu a Varanda Cultural, com todos os bancos ocupados e pessoas em pé. No menu, foccacia de berinjela e ricota, brusquesta de berinjela empanada e farfalle com ragu de frango e berinjela. “Fiz um ensopado siciliano de melanzana que tem vários nomes, um deles caponata. Esse refogado foi a base de uma massa com adição de proteína. Para a entrada preparamos ‘parmigiana di melanzane’, com molho de tomate e cobertura de queijo”, explica o chef.

 

O casal Leise Pinheiro Reis e Ayrton Soares aprovou: “Lá em casa sou degustador e estou acostumado a esta magia, esta maneira inteligente de fazer pratos e me impressionou muito esses com berinjela hoje”, afirmou ele, ao que a esposa completou: “Todos os preparos que levam berinjela me agradam muito. Essa receita do Vicente com proteína e massa se mostrou uma combinação fantástica”. Leise é aluna do curso “Chef de Cozinha” e não poupou elogios à feira. “Vi profissionais de gabarito aqui e uma oportunidade de convidar a comunidade para conhecer um pouquinho mais desse trabalho do Unilasalle-RJ na área de gastronomia, que é de excelente qualidade. É uma forma bem inteligente de fazer as pessoas participarem”.

 

Um dos organizadores do evento, Vicente conta que a proposta era dar visibilidade aos alunos do “Jovem na Cozinha”, que ajudaram no preparo de todas as receitas desenvolvidas, e divulgar a pós-graduação em gastronomia italiana, a novidade deste ano na área culinária do centro universitário. Com o sucesso da aula aberta, o chef já cogita ampliar o número de workshops na Varanda Cultural no próximo ano:  “Muitos que estavam passando pararam. Não é só voltado para a galera que se interessa por gastronomia, atraímos gourmands, aqueles que gostam de comer bem, de conhecer pelo menos para saber o que pedir em um restaurante. A interação com o público e com o entorno, nas barraquinhas, foi grande”.

Se “Jovem” e “barraca” estão na mesma frase, impossível não citar Mayara Labres. A confeiteira, de 20 anos, integrou projeto social e participou da feira vendendo os produtos de sua empresa, a “Confeitar-te”. “Sou formada em confeitaria e me inscrevi para o ‘Jovem na Cozinha’ para entrar na parte salgada. Saímos daqui com um emprego se quisermos. O curso me deu um norte muito bom do que fazer e do que não fazer na cozinha”, avalia a profissional, “Já a feira é muito boa porque tem espaço para mim. Há dois anos tenho a ‘Confeitar-te’ e vendo bolo de pote e doces em oportunidades como esta. Sou especializada em pasta americana, faço bolos para festas, aniversários, casamentos”.

 

Na abertura, o Irmão Jardelino Menegat criou um elo entre o trabalho de La Salle, voltado aos mais pobres, e o “Jovem na Cozinha”, que profissionaliza alunos entre 18 e 24 anos e tem o patrocínio da Fundação Gás Natural Fenosa.  Em seguida, ele fez um balanço da Feira Gastronômica: “A 3ª edição significa que passamos por duas anteriores. A gente vai além da 1ª só quando ela é bem-feita, o mesmo para a 2ª, a 3ª, a 4ª e assim por diante. Que possamos ter nestes dois dias o cuidado com a alimentação, que pode vir dos ingredientes mais simples”. 

DIA 30 TEVE PALUDO, DOCES E PALESTRAS

Entre os chefs renomados, uma das mais aguardadas na quinta-feira foi Silvia Paludo, executiva do grupo Paludo, de Niterói. Entusiasta da gastronomia nacional, ela deu toques regionais para as brusquetas, entrada italiana. Tradicionalmente feita com tomate, nas versões de Silvia, surgiram brusquetas de pato no tucupi, cogumelo e nutela com morango e banana no pão de cacau. “Os brasileiros já se sentem donos das brusquetas, falamos com facilidade delas. O prato em si dá uma liberdade para você fazer o que quiser. Por termos um oceano de possibilidades nacionais, podemos colori-las com os nossos tons, o que traz outras texturas e sabores”, defende a chef.

 

Apesar da grande variedade de iguarias feitas nos dois dias, a cozinha também foi parar no teatro. Palestras envolvendo Administração e História também fizeram parte da programação. A chef Cristina Lontro, por exemplo, falou sobre eventos temáticos e teve como plateia a turma de formandos do “Jovem na Cozinha”: “Falar de eventos para mim é sempre muito prazeroso porque trabalho com isso há 15 anos. Atualmente há aniversário temático, casamento temático, é algo muito em voga. É uma área que exige muito mais criatividade, então estamos abrindo a cabeça do jovem aprendiz para ele sair da caixinha”.

E gastronomia combina com História? È vero! O professor do Unilasalle-RJ, César Ornellas, explicou esta relação e os pratos típicos de cada região da Itália. “Tudo tem a sua referência histórica e a gastronomia é uma manifestação riquíssima da cultura de uma determinada sociedade”, esclareceu ele, “Em torno de uma mesa, seja em uma família camponesa, seja com um nobre veneziano, há elementos de sociabilidade vinculados não só à nutrição. Os ingredientes ajudam a contar o que foi aquela sociedade, em uma versão que não estão nos livros de História”.

 

No universo dos pratos ainda teve espaço para as bebidas. Pegando carona no campo de Ornellas, Luiz Barros trouxe “Carta de Vinhos” ao Anfiteatro do 8º andar. Em entrevista ao site antes da sua explanação, o dono do Cais de Icaraí, lembrou da importância da Itália para o desenvolvimento do seu ramo. Atualmente, o país disputa com Portugal o 3º lugar no percentual de vinhos importados para o Brasil. “O Rio Grande do Sul é o maior produtor de uva e da bebida no país, uma cultura desenvolvida a partir dos italianos. Não que os portugueses não tivessem trazido isso como parte do dia a dia, mas quem começou com a produção foram os italianos. Onde temos as primeiras colônias, na serra gaúcha, é onde temos a maior produção”, conta Barros.

Nunca tendo participado da feira, ele aprovou o que viu: “Acho que a integração dos alunos e da própria comunidade com a estrutura do centro universitário é uma movimentação bem bacana”.   

Por fim, como não poderia faltar os doces, o chef Vinícius Elias apresentou na quinta-feira a confeitaria italiana nas suas receitas de tiramissù e panna cotta, para alegria de Fabíola Simas. A advogada, de 35 anos, passou pelo workshop depois de ouvir Ornellas. “Vim na Feira para adquirir maiores conhecimentos na área da culinária. Gosto muito de assistir programas e cozinhar em casa. O professor que ministrou palestra sobre a História da Gastronomia foi bem dinâmico e o workshop doce contou com degustação, estava uma delícia”, opina.   

 

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