O Mestrado em Saúde e Desenvolvimento Humano da Universidade La Salle em parceria com Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, vem desenvolvendo desde o início do segundo semestre de 2020 um estudo que tem como objetivo avaliar os efeitos do uso da cânula nasal de alto fluxo (CNAF), em pacientes críticos com Covid-19, internados na unidade de terapia intensiva (UTI).
A proposta é analisar os desfechos da utilização do recurso ventilatório comparando os pacientes que associaram a auto prona junto a CNAF, versus os que não associaram o posicionamento, visando comparar se minimizou o risco de intubação, e se há redução no tempo de internação na UTI, assim como demais benefícios após o manejo do recurso ventilatório junto ao posicionamento; a fim de estabelecer possíveis desfechos significativos nos pacientes críticos internados na UTI.
Para entender do que se trata, precisamos primeiro saber o que é a cânula nasal de alto fluxo (CNAF) e o que é a posição prona. De acordo com o docente do curso de fisioterapia e do PPG em Saúde e Desenvolvimento Humano, Prof. Dr. Luiz Alberto Forgiarini Junior, o CNAF é um sistema que fornece oxigênio em alto fluxo, aquecido e umidificado, ao paciente através de pronga nasal. “Nesse caso tem uma cânula que se adapta às narinas do paciente e com isso eu consigo fornecer oxigênio com fluxo elevado e ao mesmo tempo aquecido e umidificado. Dessa forma ele aprimora a oxigenação do paciente, reduz o esforço respiratório é basicamente tem sido muito utilizado durante a pandemia”, explica o especialista em terapia intensiva adulta e profissional com mais de 15 anos de experiência em terapia hospitalar e terapia intensiva.
E a posição prona é aquela na qual o paciente fica de barriga para baixo na cama. Na unidade de terapia intensiva essa é uma estratégia aprovada em um estudo onde os pacientes estavam intubados ou seja sedados, intubados, utilizando ventilação mecânica. “Esse estudo chamava PROSEVA e mostrou que colocar os pacientes de decúbito ventral diminui a mortalidade e com a pandemia veio a ideia de alguns trabalhos que mesmo sem a ventilação mecânica se o paciente pudesse ficar em prona melhoraria a troca gasosa pois distribui o fluxo sanguíneo pulmonar. Então nós decidimos basicamente unir as duas frentes e estudar a utilização da cânula associada a posição prona e ver se essas estratégias associadas apresentavam melhor benefício clínico para os pacientes”, declara Dr. Forgiarini Junior.
Como surgiu a ideia do estudo?
Segundo o Prof. Dr. Luiz Alberto Forgiarini Junior, que vem coordenando o estudo, a pesquisa surgiu pois no início da pandemia de Covid-19 a cânula nasal de fluxo não era algo recomendado pela OMS. Porém, logo começaram a surgir estudos mostrando que sua recomendação é positiva, além disso alguns trabalhos passaram a apontar que a posição prona, aquela que fica de barriga para baixo na cama, seria uma alternativa possível para melhorar a oxigenação desses pacientes.
Para a realização do estudo foram analisados prontuários de 350 pacientes
O estudo tem como método o corte retrospectivo, neste caso os pesquisadores analisaram 350 prontuários de pacientes, maiores de 18 anos, com diagnóstico de Covid-19 com indicação para utilização da cânula. A coleta de dados foi conduzida no Hospital Tacchini, na unidade de terapia intensiva, e já foi concluída. Nesse momento, o grupo de pesquisadores está analisando os dados para a escrita do artigo científico que divulgará os resultados à comunidade científica.
As variáveis do estudo são: desfechos clínicos como mortalidade, ou alta da UTI para unidade de internação; tempo de utilização da CNAF, falhas da CNAF, sucesso na utilização da CNAF, análise da gasometria arterial (PaO2, PCO2); posicionamento prona, tempo de internação na UTI-A. “Também queremos identificar se a obesidade é um fator predisponente para a cânula nasal e avaliar níveis de oxigênio no sangue antes e após a cânula associada ou não a posição prona”, diz o coordenador do estudo.
Os pesquisadores acreditam que a utilização da cânula nasal de alto fluxo em pacientes com diagnóstico de covid-19, em que estes associaram a prona acordado com auxílio e orientação do fisioterapeuta para o posicionamento, e que possuem sua devida indicação para tratamento da insuficiência respiratória aguda com o uso da utilização do CNAF conforme descrito nas últimas evidências científicas já publicadas até o momento, bem como a correta avaliação do fisioterapeuta para o momento da instalação do recurso; melhora desfechos principais como: minimiza o risco de intubação orotraqueal (IOT), diminuindo as complicações ventilatórias, e as taxas de mortalidade, e assim reduzindo o tempo de internação na UTI e custos hospitalares.
Contribuição do estudo
Segundo o docente, o estudo vai poder contribuir sendo um dos primeiros trabalhos a mostrar a associação de duas técnicas, que é a cânula nasal de alto fluxo e a posição prona acordada, pode ser mais efetiva em evitar a intubação e complicação de pacientes com diagnóstico de pneumonia por Covid-19.
“Uma vez a gente demonstrando que a associação de terapêuticas é efetiva, isso muito possivelmente vai ser transposto não só para pacientes com Covid-19, mas aqueles que internaram com algum tipo de pneumonia ou condição que indique a utilização da cânula com a posição prona. Além disso, queremos analisar a tolerância dos pacientes com a posição prona e se isso tem associação com o desfecho, ou seja, se aqueles que toleram mais tempo de barriga para baixo com a utilização da cânula tem melhores desfechos e esperamos ainda que a utilização da CNAF associado ao posicionamento prona, aumente os benefícios de evitar complicações, assim propiciando ao desfecho de sucesso no uso do recurso ventilatório”, declara o Prof. Dr. Luiz Alberto.
O estudo é coordenador pelo coordenador pelo Prof. Dr. Luiz Alberto Forgiarini Junior em conjunto com sua ex-aluna de especialização, a fisioterapeuta do Hospital Tacchini, Renata Monteiro Weigert, juntamente com a coordenação do serviço de fisioterapia do Hospital Tacchini e a aluna do Mestrado em Saúde e Desenvolvimento Humano, Juliana Munhoz.
O artigo deve ser publicado no início do próximo ano.