Talvez você não o conheça pelo nome, mas com certeza você já ouviu a voz dele muitas vezes. Garcia Jr. é a voz por trás de alguns dos personagens mais queridos de gerações inteiras. Sua jornada na dublagem começou por acaso, mas desde então, ele se tornou um nome inconfundível no universo da dublagem brasileira. Com seu talento e versatilidade, Garcia Jr. deu vida a figuras inesquecíveis como He-Man, James Bond, Simba, o Pica-pau, personagens interpretados pelo ator Arnold Schwarzenegger em clássicos do cinema de ação. Sua habilidade única de adaptar a personalidade e intensidade desses personagens para o público brasileiro fez com que sua voz se tornasse parte da infância e da memória afetiva de milhões de pessoas. Ao longo de décadas, ele conquistou fãs de todas as idades e deixou uma marca indelével na cultura nacional.
Unilasalle: Como você começou na dublagem? O que o motivou a seguir essa profissão?
Garcia Jr.: Eu não escolhi essa profissão, ela me escolheu. Comecei na televisão com 2 anos e aos 10 eu fiz um teste por acaso, de brincadeira para fazer o Pica-pau para substituir o Olney Cazarré. Fui aprovado, comecei a dublar ali e não parei mais.
Unilasalle: Você dublou personagens extremamente marcantes, como Pica-pau, He-man, Simba, a lista é enorme. Existe algum personagem que tenha sido mais desafiador de interpretar?
Garcia Jr.: Sempre comento que o que foi mais desafiador dublar, foi o Robin Williams em Bom dia Vietnã, por tudo aquilo que ele fazia no filme, todas as imitações, vozes e porque ele estava quase sempre em close, com a boca muito visível. Foi um trabalho muito difícil, mas tive a ajuda extrema e maravilhosa do diretor José Santana que me deu todo o apoio para fazer um trabalho bem bacana
Unilasalle: Você deu voz ao Schwarzenegger em vários filmes de ação. Como foi adaptar a personalidade e intensidade dele para a dublagem?
Garcia Jr.: a adaptação do Schwarzenegger para o português, aconteceu de forma natural. No original tem um sotaque austríaco, que eu jamais faria, pois ficaria ridículo. O dele é natural, não tem nada a ver com os personagens que ele interpreta e sim uma condição dele de ser um estrangeiro falando inglês. O que eu sempre procurei fazer foi me aproximar ao máximo do tom de voz e da interpretação dependendo do filme. “O Tira no Jardim da Infância”, por exemplo, é completamente diferente de “Conan, o bárbaro” e do Exterminador do Futuro.
Unilasalle: Muitos dos personagens que você dublou marcaram gerações. Como você se sente ao saber que a sua voz fez parte da infância e da vida de tantas pessoas?
Garcia Jr.: Me deixa muito feliz. É Um orgulho. É a coisa mais bacana da minha profissão é ter essa possibilidade de ter tocado a infância de uma porção de gente sem perceber e ter ideia de como isso aconteceu na vida de cada um. Isso é a parte mais importante do trabalho, pois muitas crianças do passado hoje são adultos e muitos desses adultos são meus amigos e são pessoas queridas que houve uma aproximação exatamente por causa do trabalho.
Unilasalle: Com o passar dos anos, você acredita que a dublagem no Brasil tenha passado por mudanças? Quais são, na sua opinião, as maiores transformações que você testemunhou?
Garcia Jr.: Transformação acredito que sejam mais de cunho técnico. Pois quando comecei em 1977 era projetado o filme, uma película em 16mm projetados na tela, as mesas de gravação eram rudimentares para o que é hoje em dia, o som era gravado num rolo de fita chamado de anpex em São Paulo e no Rio era feito com magnético de áudio correndo junto com a celuloide. Então, claro, cada época tem uma interpretação, de tentar reproduzir o realismo e a naturalidade do falar a época que você está vivendo. Essa é a transformação. De tempos em tempos mudam as gírias, maneiras e maneiríssimos de fala e de se comunicar. As diferenças são mais tecnológicas e as formas de interpretar diferem de ator para ator, e entrega de cada um. Tem milhões de variáveis e formas de se interpretar.
Unilasalle: Aqui na ComicCon, teremos muitos admiradores do seu trabalho. Inclusive de pessoas que estão começando na área. Tem algum conselho para quem sonha em trabalhar nesse universo?
Garcia Jr.: Eu diria que primeiro, existe uma gama de possibilidades hoje, para você brincar, brincar no sentido mais puro e usar a tecnologia que todo mundo tem na ponta dos dedos e abrir um gravador no seu laptop, computador e aprender fazendo. Fazendo um personagem, fazendo uma dublagem caseira, para se ouvir e ouvir as pessoas que fazem. O trabalho da arte é isso, conseguir reproduzir mais ou menos as pessoas que você admira e respeita no sentido da interpretação e da naturalidade e estudar muito. A base do trabalho do ator é a observação do outro. A gente sempre busca trazer no nosso trabalho a veracidade que a gente já viu no trabalho de outras pessoas.
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