Comum nos discursos, disciplina nos currículos acadêmicos e teoricamente óbvia nas relações, ouvimos e conhecemos sobre a ética desde a infância. Mas, afinal, o que significa essa palavra que diz respeito aos parâmetros de comportamento?
Para a Mestra em Ciências Sociais Aplicadas e Assistente Social Marília Menezes, convidada do curso de Serviço Social para falar sobre ética profissional, é muito mais do que a honestidade e o cumprimento das leis e preceitos que regem a profissão.
Em palestra alusiva ao mês em que é celebrado o profissional de Serviço Social, a também Coordenadora de um Grupo de Trabalho do Conselho Regional de Serviço Social (Cress-RS) frisou com veemência que a conduta do Assistente Social deve ser pautada por uma profunda análise crítica da sociedade, pela compreensão da universalidade e, ao mesmo tempo, por um olhar sensível diante das subjetividades de cada cidadão e/ou família atendidos pelos serviços de assistência, uma vez que, sendo o assistente social o agente da busca pelo acesso e garantia aos Direitos Humanos e à cidadania, é imprescindível que as particularidades sejam consideradas no momento do acolhimento.
Para isso, é necessário um exercício permanente de revisão de conceitos, desapego de moralismo e desconstrução de visões estabelecidas: “Quando a gente faz a nossa intervenção nas diferentes pressões da questão social, nós expressamos, sim, o nosso posicionamento ético-político. Construir um modelo linear de família é muito mais comum do que a gente pensa e temos que desconstruir isso. Isso é ético: é a gente também se dar conta das nossas limitações e preconceitos, e trabalhar isso. Isso é se construir profissionalmente.”, defendeu Marília.
Ter o olhar não mecânico e com sensibilidade político-social levantado pela profissional vai ao encontro do tema abordado este ano na data que celebra a profissão, que reforça a função social da área na defesa dos povos originários, comunidades indígenas, quilombolas, ciganas, e tantos outros que vivem marginalizados ou desprotegidos pelo Estado no campo e na cidade: “A ética que compete ao Serviço Social contempla a visão da universalidade, pensa no ser histórico, no sujeito, na sua historicidade. A gente tem que disputar a liberdade, o direito à não-discriminação.”
Na avaliação da Assistente Social, o posicionamento e o envolvimento políticos são centrais para a transformação social para a qual a área tem a capacidade de contribuir, mas, muitas vezes, acabam ficando de lado pela rotina de imediatismo e excesso de tecnicismo, que podem tornar o profissional apenas um executor de tarefas e sem visões e projetos de intervenção a longo prazo e que sejam, de fato, emancipadores: “A maioria dos seres humanos é formada para dar respostas pontuais, mas o que mais sociedade precisa é de pessoas que vejam a totalidade.”
Apesar da crítica, Marília Menezes reconheceu que a hierarquia e as limitações de recursos podem direcionar o profissional para uma conduta mais prática e menos crítica, política e sensível - ainda mais em um momento como o que estamos, em que a assistência social está sobrecarregada devido à crise na saúde, na economia e na moradia - mas provocou os trabalhadores e graduandos da área a não deixarem de acreditar em alternativas: “Não vamos dar respostas estruturais, mas, no cotidiano, como é que podemos nos articular com a nossa equipe, a nossa rede, para pensar um projeto social transformador e não apenas mantenedor?”, concluiu.