- Cursos de graduação promovem suas semanas de palestras remotas em 2021.1, com participações nacionais e internacionais
- SEMANA DE AFRICANIDADES
- DUAS SEMANAS DE TI EM UM SÓ MÊS
- CICLO DE IMERSÃO PROFISSIONAL
- XXVI SEMANA JURÍDICA
“Que nós possamos ter um olhar para além de uma visão etnocêntrica, da história que nos foi contada. O Brasil possui uma dívida histórica”, dizia a Pró-Reitora Acadêmica do Unilasalle, Regina Helena Giannotti, na abertura da Semana de Africanidades. “Percebi que a programação prevista engloba temáticas importantes para este tempo, como os direitos da pessoa humana, a violência familiar, a segurança pública, as políticas ambientais, a reforma processual, a democracia…”, listava o reitor do Unilasalle, Irmão Jardelino Menegat, na abertura da Semana Jurídica. Entre a primeira e a última semana de eventos organizada pelos cursos de graduação neste semestre, muitas falas, em diversos idiomas, puderam chegar aos alunos. Confira algumas delas nesta matéria.
O início daquela semana foi com uma viagem a nove países da África em pouco mais de uma hora, por meio das imagens e dos relatos do fotógrafo autodidata César Fraga. Em 2014, ele refez as rotas que seus antepassados escravizados foram obrigados a percorrer rumo ao Brasil. César passou por Cabo Verde, Senegal, Guiné Bissau, Gana, Togo, Benin, Nigéria, Angola e Moçambique “para, como afrodescendente, entender como vivia o meu primo que ficou do outro lado do Oceano há 150 anos. Esta história, inacreditavelmente, não havia sido fotografada ainda”. A jornada, vivida junto do historiador Maurício Barros de Castro, foi publicada no livro Do Outro Lado (Editora Olhares) e virou também documentário (Sankofa: a África que te habita, disponível na Netflix).
Entre os muitos encontros que estabeleceu pelo caminho, está aquele que permitiu a César Fraga entender o significado da palavra “Sankofa” e conectá-la com as suas experiências no continente africano. “Em Gana, chegamos ao templo dos axânti, e fomos recebidos pelo líder dos axânti. Ele nos falou que se você deixou algo importante no passado, você não pode seguir adiante. É preciso voltar e buscar. Isso é ‘Sankofa’. Era exatamente o que estávamos fazendo. Nos abraçamos e choramos como se tivéssemos nos reencontrado. Em alguns momentos da viagem, eu realmente me senti reencontrando a minha família”, lembrou o fotógrafo.
E por se entender como parte daquela família, Fraga também chorou ao passar por portas de não retorno (local de embarque dos que eram levados ao continente americano, sendo obrigados a deixar sua terra de origem), ao entrar em celas completamente escuras onde ficavam os “rebeldes”. Seus olhos e suas lentes capturaram resquícios do que representou dor e luta, mas também capturaram as muitas cores do carnaval da Nigéria, rituais, danças, refeições sendo compartilhadas. Confira abaixo algumas dessas imagens, exibidas na Semana de Africanidades.
O encerramento daquela semana foi com uma viagem pelos caminhos para a construção de uma educação antirracista. Autor do livro Racismo estético: decolonizando os corpos negros, João Xavier falou no dia 21 de maio sobre o conceito de raça (“tecnologia de poder, usada para dominar e justificar as subalternizações dos seres humanos. Existe apenas a raça humana. Fora disso, a raça é uma construção sócio-histórica e cambiante, marcada por aspectos fenotípicos bem como por discursos e práticas socioculturais. Quem cria a raça não é o indivíduo racializado, é o racista”); explorou aspectos do racismo a partir dos fenótipos (“O racismo te fala diariamente que o bandido se parece comigo, com o João Paulo: ele é preto, ele tem o cabelo crespo. E te fala também que o professor é branco, tem olhos claros, cabelo liso”); foi além “do marcador biológico que é o nosso tom de pele” (“Nós naturalizamos pessoas brancas fazendo o papel de pessoas negras em filmes, seriados, novelas, teatro, apresentando programas culturais feitos por mãos negras historicamente no país. Esse é o racismo estético, cujos objetivos permanecem sendo os mesmos: desumanizar o indivíduo, cerceá-lo de suas subjetividades, rejeitar a sua beleza, destituí-lo de seu próprio corpo, invisibilizar a sua produção artística, limitar a sua presença nos espaços urbanos, aniquilar a sua episteme e os seus conhecimentos”).
João Xavier problematizou Hume, Voltaire, Kant e resgatou Silvio de Almeida: “Ele fala que para mudar um sistema racista precisamos ter preto pensando como fazer isso. Para o Unilasalle não ser uma instituição racista, precisamos colocar pessoas ali que vão ser capazes de ouvir pessoas negras de um ponto de vista ontológico, se identificar com elas e promover ações que vão transformar o sistema de ensino. E não é uma função só do negro. Eu gosto muito do branco abolicionista, do branco antirracista, do branco que não tem medo de colocar o dedo na ferida. É obrigação de todos não ser racista, o mínimo que se pode fazer como sujeito, mas não é o suficiente. Você tem que ser antirracista, você tem que tensionar”. João Xavier emocionou, ao declamar poesia contando um pouco de sua própria história, a história do professor Doutor, filho de uma professora; professora na vida, forjada pela resistência (confira abaixo a versão publicada no YouTube).
Entre o início e o encerramento, a Semana de Africanidades contou com interdisciplinaridade. Nascido do desejo de Cecilia Guimarães, coordenadora das licenciaturas, de estimular novos olhares sobre a História da África e a História Afro-Brasileira, o projeto chegou à sua terceira edição somando 10 eventos remotos. Não faltou espaço para a cultura (exposições virtuais na Galeria La Salle: Sankofa: Memória da Escravidão na África, de César Fraga; e Arte Africana, da Vogue Gallery Brasil); para o debate das Relações Internacionais (Na palestra Geopolítica do continente africano, por exemplo, Nilton Cardoso trouxe números sobre a pandemia na União Africana e apontou motivos para a previsão inicial de uma catástrofe no continente não se concretizar); para a abordagem da Arquitetura (Na palestra Arquitetura e urbanismo africano em 6000 anos de história de cidades, Henrique Cunha Junior explorou a riqueza de vilas e construções muito anteriores a do continente europeu); para a apresentação de trabalhos desenvolvidos por alunos do Colégio La Salle Abel (secundaristas da 1ª série do Ensino Médio trabalharam textos de Mia Couto e Chimamanda Adichie no projeto Ubuntu: humanidade para com os outros).
Semana de Tecnologia e Inovação. O nome remete aos eventos promovidos tradicionalmente pelo curso de Sistemas de Informação. Mas, em 2021.1, a tecnologia também foi explorada a partir do olhar da Engenharia. No dia 25 de maio, por exemplo, o engenheiro químico Cláudio Makarovsky buscou responder à pergunta O que a tecnologia e a sua interface com a Engenharia nos reserva?, na palestra que deu início a uma série de quatro encontros remotos.
Parte da fala de Makarovsky foi centrada no projeto Indústria 2027. Pesquisadores da UFRJ e da Unicamp, em parceria com o Instituto Euvaldo Lodi e a Confederação Nacional da Indústria, estudam como oito grupos de tecnologia (Internet das Coisas - IoT; Produção Inteligente; Inteligência Artificial; Tecnologia de Redes; Biotecnologia; Nanotecnologia; Materiais Avançados; Armazenamento de Energia) vão impactar 10 setores produtivos da economia (Agroindústria; Insumos Básicos; Química; Petróleo e Gás; Bens de Capital; Complexo Automotivo; Aeroespacial e Defesa; TIC’s; Farmacêutica; Bens de Consumo) entre cinco e dez anos. O impacto de tecnologias disruptivas está previsto para todos os setores. “Isso significa que até 2027 todas as áreas vão fazer uso do que não foi inventado ainda. A forma de se fazer será totalmente diferente daquela que é feita hoje”, explicou o palestrante, dando em seguida um exemplo: “Temos a nanotecnologia aplicada ao vestuário, gerando vestimentas com nanocompósitos que auxiliam os atletas. Novas descobertas podem impactar no desempenho deles. Já a indústria de Bens de Capital é a que mais vai demandar a disrupção”.
Sendo a Engenharia uma profissão versátil (segundo Cláudio Makarovsky, “essa formação nos torna, sem dúvidas, um dos profissionais mais ecléticos. Na época em que eu me formei, na década de 1980, o mercado financeiro contratava engenheiros”), as oportunidades que se abrem diante do contexto apresentado são inúmeras. Pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) apontou que até 2024 a demanda na área de TI será de 420 mil novos profissionais. “Hoje temos a oferta de 46 mil profissionais. Eu entrei na Microsoft em março do ano passado e nos últimos três meses nós contratamos 60 pessoas, algumas de fora do país por não encontrarmos aqui”, revelou. O conselho do palestrante é que os alunos que ingressam hoje nas Engenharias se preparem para assumir algumas dessas vagas por meio de cursos, como aqueles oferecidos no programa Escola do Trabalhador 4.0, parceria entre o Ministério da Economia e a Microsoft.
Thiago Moretti, diretor da Associação Brasileira de Planejamento (ABRAPLAN), fazia perguntas. Gabriel Gonçalves, eleito em 2015 o melhor planejador 4D a nível mundial, as respondia. Foi a partir dessa dinâmica que os alunos de Engenharia Civil e Engenharia de Produção conheceram mais sobre o BIM, sigla para Building Information Modeling, processo de criação de um modelo virtual com informações técnicas da edificação, para o qual a tecnologia é indispensável. “Envolve formas de projetar, envolve ferramentas e pessoas. A maneira com a qual você pensa a obra muda. Quando você projeta uma parede, ela deixa de ser apenas um bloco. Há um conjunto de informações ali agregadas: quantos metros quadrados de azulejo são usados, quanto de aço tem a estrutura, quanto de concreto é empregado... Ou seja, eu tenho um volume de dados a partir deste desenho. O ‘I’, de BIM, o Information, é o grande passo para a evolução dos projetos. Se você não agrega a informação de forma padronizada, de forma a atender os seus clientes, ele continua sendo apenas um modelo 3D”, esclareceu Gonçalves, explicando ainda o que é o planejamento 4D: “Para chegar ao 4D, eu utilizo as informações agregadas ao modelo que criei fazendo a interface com o cronograma. Os dados sobre a parede que eu modelei serão correlacionados a atividades do meu cronograma”.
Entre as 420 mil contratações em TI até 2024, certamente muitas delas serão de profissionais formados em Sistemas de Informação. A tradicional Semana de Tecnologia e Inovação do curso aconteceu no início de maio, com três dias de eventos no Google Meet. Dois deles tiveram como protagonistas pratas da casa, transmitindo suas experiências aos estudantes: no dia 11, a egressa Mariane Teixeira falou sobre o seu ingresso no mercado de trabalho. Já no dia 12, foi a vez de Eyre Montevecchi compartilhar detalhes de seu percurso do Unilasalle-RJ para a pesquisa acadêmica.
Atualmente Mariane atua como Analista de Sistemas Junior da Systemsat, que desenvolve soluções tecnológicas para atender centrais de rastreamento. Apesar de estar há apenas dois meses na empresa, ela acumula outras experiências profissionais, como um trabalho de dois anos em cargo semelhante, na SGC Consultoria e Sistemas, um estágio no BNDES e outro no Núcleo de Tecnologia e Inovação do Unilasalle. Foi a partir dessa bagagem que Mariane Teixeira deixou algumas dicas aos futuros bacharéis em Sistemas de Informação, entre elas a criação de conta no LinkedIn, rede social que gera conexões profissionais, e outra no Github, plataforma de hospedagem de códigos. Mas, talvez, a principal lição transmitida tenha sido aproveitar ao máximo os quatro anos de faculdade: “Você começa a criar o seu currículo e uma rede de networking ainda na faculdade. No meu primeiro currículo, todas as experiências eram apenas acadêmicas, era tudo o que eu tinha. Mas se alguém me perguntasse ‘Você já trabalhou com Java?’, eu tinha como dizer que sim. Eu não estudei no Unilasalle, eu vivi Unilasalle, pois eu ingressava em todos os projetos que surgiam na área de TI. Precisamos demonstrar conhecimento, mesmo que seja a nível acadêmico”.
Assim como Mariane, Eyre Montevecchi soube explorar as oportunidades que surgiram ao longo do curso, dando início à sua trajetória como pesquisadora ainda na graduação. Após se formar, em março de 2018, ela logo ingressou no mestrado em Ciências da Computação, na UFF. Prestes a defender a dissertação, Eyre relembrou na Semana de TI essa caminhada. “O professor Fábio Barreto foi quem me sugeriu que tentasse o mestrado e participasse do grupo de pesquisa sobre TV Digital Interativa, no laboratório MídiaCom da UFF, liderado pela orientadora dele, a professora Débora Christina Muchaluat-Saade, que depois se tornou também a minha orientadora. Pedi cartas de recomendação para três professores meus, saí do meu emprego, pois percebi que eu não conseguiria conciliar, e me inscrevi no mestrado para tentar dedicação integral com bolsa”, recordou Eyre, “Eu não consegui, mas permaneci no grupo de pesquisa e me matriculei como aluna avulsa em duas disciplinas para que os professores da UFF pudessem me conhecer melhor. Na segunda tentativa, entrei no mestrado com a bolsa. Sou muito grata ao Fábio, que, de orientador, virou um amigo de pesquisa”.
Na programação elaborada pelo curso de SI, ora o olhar esteve voltado aos legados do passado, que trouxeram os palestrantes até o presente, ora ao futuro, às perspectivas que se abrem. Na noite do dia 10 de maio, a professora da casa Suenne Righetti abordou a Computação Quântica, tema de sua pesquisa de mestrado. Esse campo de estudos investiga a aplicação dos conceitos de mecânica quântica na Ciência da Computação, gerando o desenvolvimento de softwares com base em informações processadas a nível de partículas subatômicas. Ainda há muito a explorar nessa área. Em sua palestra, Suenne explicou a diferença entre as tecnologias que usamos em nosso dia a dia e funcionam a partir de um código binário (0 e 1) e o computador quântico, no qual essa limitação não existe e é possível suportar os dois estados ao mesmo tempo, o que amplia a capacidade de processamento. “Você não terá um computador quântico em casa, não é esse o objetivo. Há problemas que são resolvidos da maneira clássica, com as nossas tecnologias em constante aprimoramento; o computador que temos dá conta deles. Há outros, no entanto, que são intratáveis, como simular moléculas, por exemplo. O computador quântico vem nos ajudar com esses problemas”, esclareceu Suenne.
O que dizer de um pavilhão de pesquisa construído a partir de método inspirado no ninho subaquático das aranhas d’água? Com cara de futuro, esse projeto já é presente e leva a assinatura do Institute for Computational Design and Construction (ICD), da Universidade de Stuttgart, na Alemanha. Rebeca Duque Estrada é pesquisadora e doutoranda no instituto e foi convidada pela professora Elisabete Reis a falar sobre iniciativas como essa no encerramento do 1º Ciclo de Formação Profissional. Com organização do curso de Arquitetura e Urbanismo, apoio das Engenharias e da graduação em Sistemas de Informação, o Ciclo contou com três dias de palestras voltadas à reflexão sobre as demandas contemporâneas do mercado, a atuação profissional inovadora e de qualidade dos arquitetos.
O tema da palestra de Rebeca era a Arquitetura Biomimética, uma palavra que para muitos pode não soar familiar agora, mas, se depender da arquiteta formada pela UFRJ, tem tudo para ser cada vez mais ouvida. “A biomimética é a prática de se buscar na natureza soluções para problemas da vida humana. É olhar como sistemas naturais resolvem certas situações e empregar esses princípios”, esclareceu Rebeca, fazendo, em seguida, uma comparação: "A vida humana está presente na Terra há mais ou menos 10 mil anos e a maneira como lidamos com os recursos naturais é baseada na exploração e na destruição. Nossas soluções são tóxicas, envolvem altas temperaturas e alta pressão. Utilizamos cada material para uma função, criando milhões de partes para formar um todo, que geram resíduos e altos custos de produção e logística, tudo isso com grandes emissões de dióxido de carbono, culminando no aquecimento global. Enquanto a vida natural na Terra existe há mais ou menos 3.8 bilhões de anos e não há resíduos: tudo se transforma. As reações químicas são baseadas em água, sem precisar de altas temperaturas e pressão. As estruturas são constituídas normalmente do mesmo material, só organizado de maneiras diferentes, e o gás carbônico no final é fonte de energia, não algo a ser evitado. Isso mostra que a natureza, através de anos de evolução, encontrou maneiras de existir e de coexistir muito mais equilibradas e coerentes do que o homem”.
Na Arquitetura, a biomimética pode ser observada na construção de um mobiliário, por exemplo. A cadeira Bone Chair, projetada por Joris Laarman, foi criada a partir do princípio do crescimento dos ossos: de acordo com as forças que são aplicadas pelo corpo há um acúmulo maior ou menor de material ósseo. Essa lógica levou à distribuição da madeira de forma otimizada no projeto. Para isso, foi utilizada uma ferramenta de simulação. O aprendizado vindo da natureza também pode ser aplicado em construções, como o Pavilhão de Pesquisa ICD / ITKE 2014-15, citado acima. No evento, Rebeca contou que os pavilhões do ICD exigem pelo menos 40 pessoas, "trabalhando muito por mais de um ano, tentando fazer algo que nunca foi feito antes, com um processo de fabricação que, dificilmente, foi empregado antes". No caso específico do projeto 2014-15, a escolha foi por reproduzir a lógica de um artrópode:
“A aranha d’água passa a maior parte da sua vida debaixo da água, o que não faz muito sentido para uma aranha, que não respira neste ambiente. Para sobreviver, ela constrói uma teia inicial, bem horizontal, vai lá em cima, pega bolhas de ar e vai acumulando na teia. Depois que acumula uma quantidade significativa de ar, ela aplica a teia dela de fibra dentro da bolha, para poder reforçá-la e morar ali dentro. Os alunos e pesquisadores do Instituto estudaram essa aranha e perceberam que seria interessante criar uma estrutura pneumática que funcionaria como um esqueleto para manter a estrutura daquela maneira até ela ser finalizada. Um robô foi colocado dentro de uma membrana cheia de ar, que foi sendo reforçada por fibras de carbono aplicadas pelo robô. A membrana não é jogada fora e a fibra é aplicada apenas onde é necessário, é usado apenas o necessário de material”.
As descobertas não pararam por aí no 1º Ciclo de Imersão Profissional. Por meio das palestras de Álvaro Farrú Betinyani e Andres Weil, os graduandos foram apresentados a particularidades da arquitetura chilena, com construções projetadas para suportar os terremotos que assolam o país. Já a partir das dicas de Joy Till, professora do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio, os futuros arquitetos conheceram formas de ampliar a presença profissional no ambiente da internet. “Como eu apareço no meio da multidão? É preciso fazer vínculos, elos com outros lugares da rede para que eu seja encontrado”, frisou Joy em um dos momentos de sua fala sobre ciberfólio, o antigo portfólio, alterado pelas potencialidades do digital. A arquiteta apontou caminhos para os estudantes explorarem essas potencialidades em diversas redes, das mais conhecidas, como Instagram, até as pouco familiares ao público presente no Google Meet, como Behance, rede de sites e serviços especializada em autopromoção. Uma das mais elogiadas no chat foi a Issuu, plataforma de publicação que permite a disposição do conteúdo como um livro a ser folheado, com imagens grandes, possibilidade de zoom e exibição de informações esquemáticas. Para aprimorar seu uso na web, Joy citou a ideia do uso de QRs Codes, que enviem o cliente a páginas e materiais extras. Tudo isso tendo em mente que um portfólio, seja em qual suporte esteja ancorado, precisa refletir conhecimento técnico, capricho, capacidade de trabalhar em equipe, de solucionar problemas, conhecimento do nicho de mercado do cliente, mostrar clientes atendidos e tipos de trabalhos realizados.
Vem dessa bagagem de jobs uma sugestão da arquiteta para quem ainda está na graduação: “Mesmo no primeiro período, no início da sua formação, é importante ser visto. Às vezes, eu não tenho condição de ter um site hiperelaborado, por falta de tempo, de recursos, mas posso buscar dentro das minhas redes esse espaço. E eu não preciso ter todos os trabalhos do mundo. Aliás, há pessoas que não gostam de exibir seus trabalhos durante a formação universitária. Não tem o menor problema, muito pelo contrário. Geralmente na faculdade você tem um nível de liberdade e experimentação muito maior. Se falta trabalho, busque algum parente que queira reformar algum cômodo, abrace este projeto, mostre como você desenvolve suas ideias”.
Na operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, 29 pessoas são mortas na favela do Jacarezinho, que nasceu como quilombo e no dia 6 de maio de 2021 foi palco de massacre. No Power Point apresentado pelo economista Daniel Cerqueira na XXVI Semana Jurídica, aquela quinta-feira é tomada como “a soma de todos os erros”. “Dos 21 mandatos de prisão, apenas 3 foram cumpridos. E quais são as consequências desta política bárbara de guerra às drogas? Simplesmente uma guerra entre a polícia e quem mora lá. Quando polícia e comunidade se odeiam reciprocamente, pode esquecer qualquer possibilidade de a segurança pública vir a funcionar”, afirmou o palestrante aos 250 presentes na sala do Google Meet e ao público que acompanhava a transmissão pelo streeming. Embasando seus argumentos na ciência, Cerqueira constatou que mais armas em circulação significam mais homicídio e questionou, a partir de estatísticas, a necessidade de operações como a do último mês:
“De 2007 a 2020 aconteceram 289 operações policiais no Jacarezinho. A partir de dados da 25ª DP, eu cruzei número de operações, número de homicídios perpetrados por policiais, número de homicídios dolosos e o de roubos na região. Percebemos no gráfico que quando as operações diminuem, o número de homicídios e roubos começa a diminuir e vice-versa. Por que isso acontece? Quando você coloca 250 policiais numa operação, significa dizer que você vai desguarnecer o policiamento na rua. Essa é uma hipótese. Outra é de que muitas dessas operações são utilizadas para dinamizar o mercado do arrego (a expressão se refere ao pagamento de propina pelos traficantes para que policiais não realizem incursão na favela durante determinado período). Quanto custa isso para a sociedade? Só a operação do Jacarezinho custou, no mínimo, R$ 366 mil. Essa barbaridade da guerra às drogas e da truculência policial não só não contribui para a segurança pública como custa caríssimo para a sociedade. De 2007 a 2020 estamos falando de R$ 106 milhões, um valor que daria para financiar a educação de 2.120 crianças desde o seu nascimento até os 14 anos”.
Escolhas discutíveis (investir na guerra e não na educação), discursos também: tal é o dilema enfrentado na contemporaneidade. No último dia da Semana Jurídica, 2 de junho, o tema da mesa era Democracia. E se o Prof. Dr. Maurício Pires Guedes resgatou a história desse regime político, passando por marcos dos séculos XVII, XVIII e XIX, o Prof. Dr. Gustavo Sampaio alertou que “talvez o momento controverso da atualidade decorra da negação do passado”. “Um homem soube enxergar o que estava acontecendo para tirar proveito da situação, lançando candidatura à Presidência do Brasil. Ele percebeu que o negacionismo da democracia representativa, o negacionismo das instituições, do próprio Estado, era o que garantiria uma vitória eleitoral naquele momento. Ele viu isso acontecer nos Estados Unidos da América, uma das democracias mais consolidadas do mundo, dois anos antes. O nosso atual presidente, Jair Bolsonaro, adaptou o trumpismo norte-americano à realidade tupiniquim. E foi vitorioso. Creio que não adotou ações legítimas do ponto de vista democrático, mas se elegeu democraticamente pelo voto. E 57 milhões e 700 mil brasileiros acreditaram naquela promessa. Democracia é saber respeitar a vitória do adversário. O problema é que isso representa muito mais do que a vitória de um adversário, isso representa uma negação do Estado em um momento preocupante de transformações tecnológicas que nós não compreendemos”, avaliou Sampaio.
O docente citou o uso do WhatsApp como ferramenta decisiva nas eleições de 2018 e fez referência à Zygmunt Bauman para sintetizar o que, a seu ver, ameaça à democracia: “No mal-estar da pós-modernidade, a nossa dificuldade é a dificuldade de compreender a mudança. As mudanças que se processaram da Revolução Puritana até o terceiro quartel do século XX pouco significaram do ponto de vista da brevidade temporal comparativamente ao que ocorre hoje. Do Estado Liberal ao Estado Social foram séculos. Hoje as coisas mudam instantaneamente e nós não temos capacidades humanas de compreender este fato. As transformações não são mais assimiladas pelo corpo social em tempo de o corpo social oferecer a sua resposta no modelo de participação tradicional que a urna convoca”.
Se a mudança trazida pela evolução tecnológica foi mencionada na palestra da manhã, na noite daquele mesmo dia outra mudança era aludida: desta vez aquela observada nas relações de trabalho, fruto do cenário de pandemia vivido há mais de uma ano. Na mesa Direito Emergencial do Trabalho: Reflexões jurídicas. MPs 1045/ 1046 e Lei 14.151/2021, a docente da casa Larissa Villar mediou a conversa com o professor convidado Leandro Antunes, que fez algumas reflexões, dentre outros temas, sobre a obrigatoriedade ou não do funcionário de uma empresa em se vacinar. Confira abaixo fotos desse e de outros momentos da XXVI Semana Jurídica.
Por Luiza Gould
Ascom Unilasalle-RJ