- Semanas de evento contaram com a presença de Presidente do IPHAN e pesquisadores
- Confira outras fotos do III Seminário de Patrimônio, Arte e Cultura
Imagine você, em uma noite de terça-feira, conhecer mais sobre Paraty e as características da cidade. Momentos seguintes, ouvir um Choro e discutir mais do gênero musical após apreciar um pouco dele. Dias depois, no mesmo evento, ouvir do Presidente do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) sobre a evolução e os ofícios dessa autarquia federal. Durante o mês de março, no III Seminário de Patrimônio, Arte e Cultura, as terças-feiras dos dias 12 e 19 foram de discussões e apreciações acerca dos diferentes tipos de patrimônios e a importância deles para a nossa sociedade. O evento foi organizado pelo Núcleo de Arte e Cultura e o curso de Arquitetura e Urbanismo. Saiba mais a seguir.
Paraty é um munícipio situado no sul do estado do Rio de Janeiro. Para a história do Brasil era início ou fim, dependendo da direção, do chamado caminho do ouro. Para Fernando Pires, fotógrafo e doutor em Memória Social, é sua cidade materna, é berço físico e afetivo. A cidade traz consigo diversos significados representativos para o país, por isso, tamanha relevância foi reconhecida como Patrimônio Mundial junto à Ilha Grande em 2019, pela UNESCO (Comitê da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). “Foram vários ciclos econômicos, pois tratava-se de uma cidade estratégica, ela tinha muitos fortes para se defender dos corsários, conhecidos como piratas, fora outros invasores. Hoje, só existe um forte na íntegra assim”, explicou Fernando.
O fotógrafo trouxe mais detalhes acerca de Paraty, incluindo históricos, curiosidades e detalhes que pôde conhecer como pesquisador ao longo dos anos. Entre os saberes, alguns não tão positivos: “Dentro de Paraty há Paraty Mirim que é um bairro. É um lugar meio abandonado, a meu ver. É uma pena testemunhar essas construções ruírem e caírem. Eu fotografei algumas ruínas em 2017/2018 com todo o esqueleto das casas ainda e hoje nem isso tem mais, realmente foi abaixo”, detalhou.
Os alunos, Angelina Accetta e, ao fundo, Fernando Pires
Se Chico Buarque pergunta em uma de suas canções “Que tal um samba?”, o III Seminário adaptou para “Que tal um Choro?” ao trazer para a programação mais desse gênero consagrado em fevereiro como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural - órgão colegiado do IPHAN. O produtor cultural e doutorando André Cesari compartilhou com os alunos mais do gênero que é composto pelos instrumentos musicais bandolim, cavaquinho, clarinete, flauta, pandeiro e violão 7 cordas. Antes das discussões, porém, vídeos de apresentações de Choro tomaram conta da Sala Mundo, do Espaço Conecta, para os alunos relembrarem o estilo “com formosura, bem brasileiro”, parafraseando a canção de Buarque citada acima.
Para administrar, supervisionar tantos patrimônios materiais e imateriais, o Brasil possui o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, uma autarquia federal distribuída por todo o território brasileiro, com 27 superintendências estaduais que estão vinculadas ao IPHAN de Brasília, sendo ela a unidade central. Leandro Grass está à frente desse órgão como Presidente. O convidado da segunda e última noite do evento conversou, de modo remoto, acerca da instituição com 87 anos de existência. Segundo Leandro, o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, assim intitulado à época, “era dedicado também a projetar os símbolos do país, aquilo que referenciava a nossa cultura, pois o Governo Vargas tinha como característica o nacionalismo. Ainda era uma concepção bem restrita nesse entendimento do que era cultura brasileira, uma visão bastante colonialista atrelada aos monumentos, às grandes edificações, aqueles territórios e cidades que expressavam esse Brasil muito controverso de herança escravocrata”. Logo, o principal intuito nos primeiros anos do chamado SEPHAN foi o de identificar e preservar os então símbolos nacionais, de muito valor para o Modernismo brasileiro.
O IPHAN possui vínculo com o Ministério da Cultura e tem como missão a preservação do patrimônio brasileiro em qualquer dimensão, seja ele material ou imaterial; os termos para definição são a título de execução técnica dentro das políticas de patrimônio, mas variam de país para país. Além disso, é o órgão principal de relacionamento com a UNESCO, uma união voltada a “dialogar e entregar também um conjunto de resultados a fim de fazer avançar a agenda do Patrimônio Mundial e do Patrimônio da Humanidade. Nós temos 15 sítios inscritos na lista do Patrimônio Mundial. Tratam-se de bens materiais, edifícios, centros históricos, conjuntos urbanos tombados indicados a UNESCO e presentes na lista do Patrimônio da Humanidade; neste caso nos referimos ao Patrimônio Imaterial. Somando todos eles, o Brasil tem hoje 32 bens inscritos e também adicionamos bens do Patrimônio Natural”, explicou Leandro. Contudo, é importante reiterar que sítios dos Patrimônios Naturais não estão sob a gestão do IPHAN, mas sim do ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), vinculado ao Ministério do Ambiente.
Na foto, Diego Ramos e Angelina Accetta conversam com Leandro Grass via meet
Naquela noite, os alunos puderam conhecer mais características do IPHAN, incluindo curiosidades de termos tradicionais do cotidiano, como “tombamento” que carrega um contexto histórico: “O termo tombamento é até controverso. Talvez algum de vocês já tenha sido provocado do por que se fala tombamento. Mas é uma herança colonial carregada desta nomenclatura que dizia a respeito à Torre do Tombo em Lisboa – Portugal, onde a coroa portuguesa guardava itens de grande importância para ela: especialmente os mapas, livros, documentos, algumas peças artísticas. Então, tombamento é o nome dado a esse processo de reconhecimento como patrimônio material do Brasil ou, às vezes, no estado ou no município”.
Não é a primeira vez que o Unilasalle-RJ recebeu Leandro Grass. O Presidente do IPHAN esteve com graduandos de Arquitetura no período passado para discussões sobre o Patrimônio Arquitetônico. Relembre aqui este momento. Após a conversa com ele, os participantes do Seminário também tiveram um bate-papo virtual com Mary Carmen Aranda, a coordenadora do MiMuseo Universitario De La Salle Bajío, no México. Carmen é uma figura recorrente em eventos do Núcleo de Arte e Cultura, com uma bagagem de saberes plural que permeia o resgate à memória daquilo que é tangível e/ou intangível e ultrapassa as paredes dos museus.
Nota:
Inicialmente, a 3ª edição do Seminário de Patrimônio, Arte e Cultura aconteceria durante três terças-feiras. Entretanto, por questões pessoais dos convidados, o dia 26 precisou ser cancelado.
Por Maria Eduarda Barros / Revisão: Luiza Gould
Fotos por Adriana Torres
ASCOM Unilasalle